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Colunista

Caixinha do Nubank (ROXO34) e afins: a revolução digital se esqueceu das “pejotas”

Nubank decepciona com única opção de investimento para PJ; especialistas apontam melhores alternativas

Caixinhas da Nubank podem ser pouco funcionais aos investidores (Foto: Adobe Stock)
Caixinhas da Nubank podem ser pouco funcionais aos investidores (Foto: Adobe Stock)

Um dia desses um amigo que mantém um portfólio diversificado de investimentos me pediu socorro. Ele presta serviços como pessoa jurídica (PJ) há mais de um ano e me contou que precisava manter um dinheiro no caixinha do Nubank (ROXO34), a fim de arcar com alguns custos de curto prazo. O problema é que fazia tempo que esses recursos estavam parados na conta corrente.

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Não era a primeira vez que eu ouvia uma queixa similar. Com frequência escuto de investidores sofisticados que o dinheiro da pessoa física está mais bem investido do que o da pessoa jurídica – mesmo quando é uma soma relevante. Eu mesma, apesar de ser analista e planejadora financeira, ei por esse drama de encontrar boas opções para o caixa quando montei minha própria empresa há dois anos e meio.

Na pessoa jurídica, esse amigo tinha conta no Nubank. Disseram para ele que os custos seriam mais baixos assim. Ao buscar uma opção de investimento para o caixa, entretanto, ele me disse não ter encontrado nenhuma alternativa razoável.

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Embora minha especialidade seja a construção de um portfólio de investimentos para a pessoa física, fiquei intrigada e pedi para ver o aplicativo do banco digital – onde de fato R$ 44 mil repousavam na conta corrente.

Buscamos pela lista de investimentos e não havia. Encontramos apenas um ícone em forma de carteira com o nome “guardar dinheiro”. Ao clicar nele, fomos estimulados a escolher um nome para nossa “Caixinha PJ” entre classificações como “imprevistos”, “folhas de pagamento”, “impostos”, “projetos e clientes”. Tinha até a opção de escolher uma imagem para ela.

Sou uma grande defensora da didática ao tratar de investimentos, mas aquilo nos pareceu um espelhamento inapropriado da jornada da pessoa física, pouco funcional para a realidade de empresários.

O maior problema, entretanto, ainda estava por vir. Seja qual for o objetivo escolhido, todas as caixinhas desembocam em uma única opção de investimento: o RDB (Recibo de Depósito Bancário), um tipo de título de crédito emitido por instituições financeiras. Ou seja, a única alternativa é emprestar dinheiro para o Nubank.

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O retorno? Só 100% do Certificados de Depósito Interbancário (CDI), sem qualquer prêmio sobre o título público Tesouro Selic, ao contrário do que se espera de um papel com risco de crédito. E pode piorar: com retorno só 30 dias após a data da aplicação.

Tive que concordar com meu amigo: jamais deixaria o caixa da minha empresa em tal investimento. Bom lembrar que, mesmo com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a devolução dos recursos em caso de qualquer problema de inadimplência pode demorar, o que não é aceitável para o caixa.

A falta de recompensa pelo risco corrido e a ausência de retorno se o dinheiro é resgatado em menos de 30 dias – algo absurdo se considerarmos que há opções com risco menor que rendem a mesma coisa sem carência – eram a pá de cal. A única saída, falei para ele, era trocar de banco.

Questionada com frequência sobre alternativas para o dinheiro da PJ, sempre fugi do tema, já que sou especialista em pessoas físicas. O fato, entretanto, é que muitas pessoas físicas são também PJs – até pela disseminação da “pejotinha”, profissionais com funções de empregados contratados como prestadores de serviço para evitar encargos trabalhistas.

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Aquela situação, entretanto, me deixou intrigada. Resolvi, então, ir mais a fundo. Procuramos o Nubank, desacreditados sobre a falta de alternativas. E recebemos a confirmação: “O único investimento que temos disponível para PJ é a Caixinha”. “E o que tem na caixinha? RDB?” – devolvemos. E recebemos a temida resposta, por escrito: “Isso”.

Publiquei um vídeo contando a história no meu Instagram (veja no fim do texto) e a questão se mostrou de interesse comum. Rapidamente, o vídeo superou 100 mil visualizações e, no momento em que escrevo, já tem 3,8 mil curtidas, 2,5 mil comentários, 909 encaminhamentos e 465 salvamentos.

Em atendimento à demanda dos nossos clientes, eu e minha equipe mapeamos as prateleiras voltadas à pessoa jurídica dos maiores bancos e corretoras em um trabalho similar ao que fazemos para a reserva de emergência das pessoas físicas. Especialistas que somos na análise de fundos, focamos nesse tipo de investimento – que consideramos uma solução prática para o caixa da empresa.

A pior plataforma em termos de opções para a pessoa jurídica é sem dúvida a do Nubank, mas também não foi fácil encontrar alternativas em outras corretoras e bancos que condizem com o perfil que defendemos para esse tipo de investimento.

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Estávamos em busca de uma opção para o caixa da empresa – aquele dinheiro que pode ser necessário a qualquer momento e que, por isso, precisa ter resgate fácil e rápido, baixíssimo risco de inadimplência, não ter solavancos e, somente depois de obedecidos todos esses critérios, o máximo retorno possível.

Para o caixa da empresa, assim como para a reserva de emergência da pessoa física, preferimos a solução mais conservadora, o chamado risco soberano: títulos públicos pós-fixados, ados por meio de fundos baratos.

As duas maiores concorrentes no universo das corretoras, BTG e XP, saem na frente aqui. Não que tenham feito algo especial: as duas replicam praticamente a mesma plataforma de investimentos para a pessoa física e a jurídica. Eu bem que gostaria de poder sonhar com produtos pensados para pequenos e médio empresários, como fundos adequados ao caixa com horário de resgate ampliado. Uma réplica nesse segmento, entretanto, já é uma dádiva.

Ambas oferecem na plataforma para a PJ fundos que investem somente em título público Tesouro Selic, com taxa zero, para investimentos de até R$ 100 mil – a melhor opção para o caixa na nossa opinião.

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Para valores superiores a R$ 100 mil, a XP também oferece para a PJ uma opção com esse perfil com taxa de 0,15% ao ano e o BTG, com 0,2% ao ano. Os dois são bastante íveis, com aplicação mínima de R$ 100.

No Inter, os fundos sugeridos pela própria instituição para aplicar o caixa foram vetados pela nossa análise independente, porque têm uma parcela relevante em crédito privado e taxas mais altas, próximas de 0,6% ao ano. A opção que mais se aproxima dos nossos critérios é o Inter Simples, com taxa de 0,25% ao ano, ainda que também invista em crédito privado.

No universo dos bancos tradicionais, o Safra sai na frente, com um fundo para caixa na conta PJ que também investe somente em títulos públicos e tem taxa de 0,2% ao ano. Aqui é preciso ter um caixa mais robusto: a aplicação mínima é de R$ 100 mil.

No Itaú (ITUB4), os fundos que se concentram em títulos públicos são um pouco mais caros, custam a partir de 0,25% ao ano – e a oferta varia de um segmento de cliente para outro.

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No Bradesco (BBDC4), também amos a conta de um amigo empresário. O grande volume de fundos de depósito interbancário (DI) com nomes criativos – Sky, Corporate Federal Extra, Federal Plus, Platinum, Simples Brilhante, para citar alguns – mais confunde do que ajuda. E, ao menos para ele, ao clicar em vários dos fundos recebíamos de volta uma orientação para ir até uma agência ou falar com o gerente – em plena era digital.

A maior parte dos fundos do Bradesco, além disso, é cara: tem taxa entre 0,5% e 1,5% ao ano. Com muita dificuldade chegamos a uma opção mais próxima do desejado, de nome Corporate, que investe majoritariamente em títulos públicos e tem taxa de 0,15% ao ano. A aplicação mínima é de R$ 50 mil.

A julgar pelo número de clientes – pequenos e médios empresários – que vieram nos agradecer pelo relatório nos últimos dias, há uma oportunidade inexplorada aí. Ou, pior: um ambiente em que o empresário, atolado pelas demandas dos próprio negócio, acaba sendo explorado – e muitas vezes nem se dá conta.

  Ver essa foto no Instagram   Uma publicação compartilhada por Luciana Seabra (@seabraluciana)

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