O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante reunião ministerial. FOTO: WILTON JUNIOR / ESTADÃO
Após 100 dias de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil e o mercado viveram uma montanha-russa, com o Ibovespa mostrando seu pior início de ano desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, a quebra da Americanas (AMER3), a apresentação de um novo arcabouço fiscal até o rali da bolsa visto nos últimos dois dias, que fez o índice chegar aos 107.000 pontos.
Para analisar os primeiros 100 dias do governo, o E-Investidor fez uma live especial com André Perfeito, economista pela PUC/SP e mestre em economia política pela mesma instituição, sob o comando da repórter Luiza Lanza.
Perfeito trouxe uma análise que compreende as reações do mercado aos principais eventos do Brasil e do mundo nos últimos meses, principalmente sobre o impacto da posse de Lula e do arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e como os investidores já deveriam ter entendido o modo de operar do presidente, em seu terceiro mandato.
“Lula está no terceiro mandato, todo mundo sabe como ele opera. Ele morde e assopra, as pessoas estão levando a sério demais as críticas feitas ao Banco Central e a Campos Neto. Toda a sua base pede uma redução da taxa de juros, mas ele sabe que não pode tirar Roberto Campos Neto de lá (da presidência do BC), então o Haddad faz essa conciliação”, disse Perfeito.
O economista compartilhou com os investidores as suas expectativas para os juros nos próximos meses, considerando a relação entre o governo e o Banco Central. “O Brasil tem espaço para queda de juros. A inflação de médio e longo prazo estão diminuindo. E se o BC abaixar a taxa de juros, não vai ser por pressão, 13,75% ao ano é uma taxa muito alta. A Selic deve cair para uns 12,5% esse ano. A Selic pode começar a cortar em junho”, disse ele. Perfeito também pontuou que o câmbio deve cair mais a curto prazo e fechar o ano a R$ 5.
O economista seguiu a entrevista observando como o mercado, principalmente nos últimos dias, está reprecificando a eleição de Lula, tendo em vista que grande parte do setor financeiro havia se posicionado esperando uma reeleição de Jair Bolsonaro (PL). “Muita gente montou posições esperando a vitória de Bolsonaro. Qquando Lula ganhou, pipocou gente falando para colocar o dinheiro no exterior”.
Arcabouço fiscal
Outro ponto de destaque trazido por Perfeito é a reação ao arcabouço fiscal. “Qualquer regra é melhor que nenhuma. E desde que o Paulo Guedes pediu um waiver para pagar precatórios, o Teto de Gastos virou fumaça. Quando você gera superávits cortando até papel higiênico de Universidades Federais, ele não conta muito”.
O economista destacou também a maleabilidade do arcabouço fiscal, por ser uma regra mais flexível do que o Teto de Gastos. “No arcabouço você determina uma meta de trajetória, o que é muito importante. Você até pode aumentar os gastos, mas só se você atingir as metas, e isso só pode ser determinado no decorrer do tempo. O arcabouço é como um plano de negócios”, destacou o economista.
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Ao finalizar a entrevista, Perfeito ainda disse que, para os próximos 100, é preciso ficar de olho nos efeitos dos projetos sociais na economia, a reação da taxa de juros e os desdobramentos da guerra na Ucrânia e possíveis conflitos em Taiwan.