Moedas como a Tether são pareadas ao dólar e têm liquidez imediata. Foto: AdobeStock
Com o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 3,5% sobre compras internacionais e remessas cambiais, cresce o interesse por alternativas mais eficientes para transferir recursos ao exterior. Diante disso, as criptomoedas, especialmente as stablecoins, surgem como protagonistas nesse movimento.
Ao eliminar a incidência de IOF e reduzir os custos com spread e taxas bancárias, essas moedas digitais pareadas ao dólar oferecem agilidade, liquidez e economia. É como comprar o dólar em tempo real pela cotação das telas de plataformas financeiras, sem intermediação de uma casa câmbio. Mas qual é a melhor cripto para esse tipo de operação?
Segundo André Franco, CEO da Boost Research, as melhores stablecoins são as mais conhecidas, ou seja, a USDT (Tether) e USDC (emitido pela Circle). “Ambas são pareadas ao dólar e servem justamente para isso, o que permite fazer remessas ou pagamentos no exterior com muito mais previsibilidade e segurança”, defende.
Embora a Tether tenha enfrentado questionamentos no ado sobre a solidez de suas reservas, Franco acredita que esse cenário está mudando. “Daqui a uns seis meses, com o avanço da regulação nos Estados Unidos, tanto a Tether quanto a Circle devem seguir padrões mais rigorosos, e o investidor terá mais segurança do que teria investindo num fundo de dólar local”, projeta.
Por anos, o mercado duvidou se havia realmente dólares suficientes lastreando todos os tokens emitidos pela Tether. No processo de regulação desse mercado nos EUA, o Congresso discute regras para garantir que emissores como USDT e Circle tenham reservas auditadas e sigam padrões bancários. A SEC e o Fed também acompanham, entidades equivalentes à CVM e ao Banco Central no Brasil.
Outra vantagem da Tether e Circle é a liquidez imediata. Elas não sofrem com prazos de resgate como os fundos cambiais tradicionais. “Você não paga taxa, tem liquidez no mesmo dia. Fundos cambiais geralmente pagam em D+1 ou D+2. E como são negociadas em ambiente de livre mercado, muitas vezes a stablecoin pode estar até mais barata que o dólar turismo”, diz.
Outras stablecoins como o DAI, por exemplo, ainda enfrentam baixa liquidez em comparação às gigantes USDT e USDC, o que reduz sua utilidade prática para grandes transações ou pagamentos no exterior.
Cartões cripto
Vinícius Bazan, CEO da Underblock, reforça que o uso de stablecoins em conjunto com cartões de cripto oferece uma das soluções mais eficientes para quem quer gastar em dólar. “A compra da stablecoin segue o preço de mercado, às vezes está até mais barata, mas costuma acompanhar o dólar comercial. E se você vai gastar em dólar, a taxa é zero. A única conversão com taxa acontece quando você usa em outra moeda, como euro, que aí tem algo como 1%”, explica.
Ele reforça a ideia de que USDT e USDC são ideais para remessas e pagamentos, justamente porque são estáveis e operam com rapidez e baixo custo. “Elas são pareadas ao dólar, então você consegue fazer operações baratas e rápidas. É a natureza delas”, afirma. “Transferir uma stablecoin é como fazer um Pix: você copia o endereço da wallet de destino e a moeda vai direto pra lá. Pode ser outro país, outra corretora, ou um cartão pré-pago de cripto.”
Segurança é prioridade
Apesar da praticidade, os especialistas alertam para os cuidados com segurança. A escolha da corretora tem tudo a ver com o tema, além da atenção do cliente à sua própria proteção de dados. “Se alguém tiver o à sua conta ou à sua chave privada, pode transferir tudo e não tem como reverter. Por isso, é melhor usar autenticação em dois fatores, limites de saque e não compartilhar credenciais”, diz Franco.
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Ele aponta o Mercado Bitcoin como a exchange nacional em que mais confia, apesar de não ser a mais barata. “Alguém tem que pagar a conta. Segurança custa. A gente viu isso no caso da FTX: era barato, bonitinho, e quebrou levando o dinheiro de todo mundo. É a clássica conta de migalhas que faz você perder o banquete inteiro.”
Bazan tem uma visão mais construtiva em relação ao evento da FTX, uma das maiores corretoras cripto do mundo que faliu em 2022 após usar fundos de clientes para cobrir prejuízos do seu fundo Alameda. “Foi um caso grave, mas pontual”, diz. Na sua visão, o ocorrido acabou sendo um catalisador de melhorias para o setor. “Hoje, as corretoras sérias oferecem provas de reservas, auditorias independentes e sistemas de segurança mais robustos. O universo cripto ficou mais seguro depois disso.”
Outro ponto a ser observado é manter a declaração de ativos em dia junto à Receita Federal. “O mais importante no Brasil é manter a conformidade fiscal. Você precisa declarar o que tem em cripto e os ganhos, se houver”, diz o CEO da Boost Research.