Valor do Bitcoin vem caindo nos últimos dias. Foto: Envato Elements
As incertezas frente à reunião do Fed, o banco central dos Estados Unidos, marcada para esta quarta-feira (26), estão pressionando o mercado de criptoativos. Depois de encerrar a última semana com uma queda de 18%, na manhã de segunda-feira (24) o bitcoin chegou a despencar 12,43% – a US$ 33.435, o menor nível em seis meses.
Apesar de conseguir recuperar o patamar dos US$ 36 mil, às 19h10 desta terça (25) a cripto operava em queda de 0,19% a US$ 36.630,20. Especialistas acreditam que no curto prazo a instabilidade macroeconômica deve seguir afetando as criptomoedas. O momento de baixa, porém, pode ser uma boa oportunidade para quem estiver pensando em apostar no mercado.
Para Andrey Nousi, da Nousi Finance, tudo a pela influência do cenário macroeconômico, com quedas bruscas nas bolsas americanas, inflação global alta e bancos centrais pressionados para aumentar as taxas de juros. Economistas já trabalham com a hipótese de que o Fed faça de três a seis aumentos de juros, o que elevaria a atual taxa dos EUA de 0% a pelo menos 1,5%.
“No último ciclo, de 2008 a 2020, o período de aumento de juros foi muito gradual. Muito embora sair de um cenário de 0% para 1,5% possa não parecer muito, a dívida americana é muito grande. No valor absoluto para pagamento de juros é muito dinheiro”, alerta Nousi.
Com efeito em cascata para o resto das empresas e do mercado, esse aumento dos juros nos EUA impacta investimentos de maior risco – entre eles, as criptomoedas. Segundo Lucas arini, especialista em criptomoedas do Mercado Bitcoin, a retirada dos estímulos monetários do Fed muda a estrutura de risco dos investidores profissionais, que vão evitar estar expostos a ativos de risco, como o mercado de ações e de criptoativos, migrando para a compra de títulos do tesouro.
Para Nousi, a escalada das tensões geopolíticas entre Ucrânia e Rússia também pode estar contribuindo para o mau humor do mercado, já fragilizado pelas expectativas de alta de juros. A Ucrânia, que pretende fazer parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), está sob risco de invasão russa.
“O movimento hoje é bem ruim, com a bolsa da Rússia caindo 8%, em uma situação geopolítica que piora cada vez mais. Conflito armado é algo que nunca é muito bom, porque você não sabe as dimensões desse embate. E a pior coisa que o investidor pode ter diante de si é a incerteza”, explica Nousi.
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A Rússia é um dos principais produtores de petróleo do mundo e a possibilidade de um conflito armado gera aversão ao risco no exterior. Além disso, o Kremlin possui cerca de 10% dos mineradores de criptomoedas, mas, na última semana, chegou a dizer que proibiria não só a mineração dos ativos, como todo tipo de transação com ativos do segmento.
Vai melhorar?
Embora o cenário pareça desanimador, na visão dos especialistas, o mercado de criptomoedas está preparado para os próximos meses. Para Felipe Veloso, economista e fundador da Cripto Mestre, esse movimento já era inclusive esperado, pois tais ativos têm ciclos. E, agora, chegou o momento das baixas.
“Quando o mercado está assim, com juros baixos, as criptos e as bolsas secundárias crescem muito, gera bolha especulativa. Era consenso entre economistas e investidores de criptos que a bolha já estava para estourar. E está estourando”, afirma.
Na visão do especialista arini, do Mercado Bitcoin, o mercado ainda está precificando o cenário macroeconômico, mas a expectativa é que a queda dos criptoativos se atenue a partir de março. “Isso não quer dizer que a partir disso vai subir. Pode ficar lateralizado por vários meses. Para o ano, espera-se apenas uma consolidação, sem expectativa de quem venha realizar novas máximas”.
A previsão mais pessimista de Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move. Ele estima que o bitcoin caia até US$ 27 mil esse ano. Mas o analista acredita que os bons fundamentos do mercado vão garantir a recuperação. “A queda não mudou a saúde do mercado. O bitcoin não perdeu os fundamentos de quando estava em US$ 68 mil. A estrutura de mercado, os projetos em desenvolvimento e os hashrates seguem os mesmos”.
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Veloso concorda que, ado o impacto do provável aumento da taxa de juros americana, no longo prazo a expectativa é de que as criptomoedas se recuperem. Ele destaca que em 2024 o bitcoin vai realizar um novo halving – quando, a cada quatro anos, o ativo a a premiar os mineradores metade do que estava estabelecido –, o que vai aumentar o valor intrínseco da criptomoeda e conduzi-la um novo ciclo de alta. Atualmente, a remuneração é de 6,25 bitcoins por bloco minerado, e daqui a dois anos deve ficar em 3,13.
“O valor tende a aumentar eternamente porque o bitcoin sobe numa proporção muito lenta, enquanto os governos imprimem dinheiro em uma proporção muito alta. Quando a gente fala que o Bitcoin está valorizando, na verdade, são as moedas que estão desvalorizando em relação ao Bitcoin”, diz.
Os especialistas concordam que este é um bom momento para o investidor interessado no setor. Na visão de para Tasso Lago, como as estruturas do mercado seguem saudáveis, mas com preço mais baixo, é como comprar o ativo na promoção. “É um excelente momento, porque é muito melhor entrar no mercado com o bitcoin valendo US$ 33 mil, US$ 35 mil do que quando vale US$ 50 mil. É melhor comprar na queda por bons projetos do que na alta por euforia”, afirma. Lago destaca ainda que o investidor interessado deve estar ciente da volatilidade do ativo e não se apavorar.
Andrey Nousi, da Nousi Finance, concorda. Para o especialista, ainda não é possível saber até onde as quedas vão se estender e, por isso, é preciso ter calma ao investir. “Prefiro a estratégia dos aportes periódicos, que te ajudam nesse tipo de situação, porque suavizam a volatilidade. Se um mês você comprou e caiu, no próximo mês você estará acumulando mais bitcoins a um preço menor. E isso te dá mais disciplina de aporte, ao invés de tentar fazer futurologia quanto ao preço mínimo ou máximo”, diz.
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A estratégia de pequenos investimentos também é a recomendação de arini, do Mercado Bitcoin. “Nunca entre com o aporte inteiro de uma vez só. A forma mais segura de investir em criptoativos até agora é manter uma alta exposição em bitcoin e depois ir para as outras moedas, com uma pequena parcela do capital em aportes recorrentes”.
Veloso, da Cripto Mestre, acredita que este já é um bom momento para quem quer começar a investir em bitcoin, que deve cair menos que as outras moedas digitais. Para essas, o economista aconselha esperar um pouco mais: “Vai ficar bom para comprar altcoins só depois de agosto, quando o preço tiver derretido, quando caírem 90% em relação à máxima histórica”.