Fintechs têm aumentado o rendimento de seus "Cofrinhos" e "Caixinhas". Foto: Adobe Stock
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic para o patamar de 14,75% ao ano, o maior nível desde agosto de 2006. Mesmo diante de uma taxa de juros alta, fintechs têm ampliado o rendimento de seus “Cofrinhos” e “Caixinhas” – opções que se apresentam como uma forma mais descomplicada de investir.
No final de abril, por exemplo, o Nubank anunciou que sua “Caixinha Turbo” aria a render 120% do CDI para clientes Nubank+ e Ultravioleta. A ferramenta para esses grupos conta com limite de R$ 10 mil e liquidez imediata. Os demais usuários da fintech têm direito à “Caixinha Turbo” com rendimento de 115% do CDI. Para ativá-la, no entanto, é preciso realizar uma movimentação mensal na conta de R$ 900.
A opção permite poupar até R$ 5 mil. O rendimento turbinado é válido por 31 dias – a partir do momento em que a quantia estabelecida é atingida e pode ser renovado ao fim do período com um novo aporte. Caso contrário, o saldo será transferido para um Recibo de Depósito Bancário (RDB) com rendimento de 100% do CDI.
Dias depois do anúncio do Nubank, o Mercado Pago informou que seus “Cofrinhos” ariam a render 120% do CDI para s Meli+, programa de fidelidade do grupo Mercado Livre. Esse retorno é válido para valores de até R$ 10 mil. Acima desse limite, aplica-se o rendimento de 100% do CDI, conforme previsto nos termos e condições.
Clientes que possuem a “Conta Turbinada” da instituição – ou seja, que trouxerem a partir de R$ 1 mil para a sua conta no Mercado Pago – também aram a contar com um rendimento maior nos “Cofrinhos”, de 115% do CDI, com limite de até R$ 5 mil. Acima desse valor o rendimento é de 100% do CDI.
Esse movimento tem chamado a atenção do mercado. Com a Selic elevada, o mais esperado seria uma redução na rentabilidade prometida por esses produtos. Isso porque, com o avanço da taxa básica de juros, o CDI – principal referência para aplicações de renda fixa – também sobe, o que, por si só, já aumentaria o rendimento dos chamados “Cofrinhos”.
Gustavo Moreira, planejador financeiro e especialista em investimentos, acredita que as ações das fintechs buscam tanto atrair novos clientes quanto estimular os usuários atuais a transferirem recursos que eventualmente estejam aplicados em outras instituições.
“Trata-se de uma forma eficiente de aumentar a base de clientes e também de captar recursos, mesmo que com impacto financeiro controlado, já que essas condições especiais geralmente têm um teto de aplicação. No fim, o cliente se beneficia de um retorno acima da média e a instituição amplia sua captação e relacionamento”, explica.
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O planejador financeiro enxerga que essa modalidade de investimento é interessante para os investidores, principalmente para quem busca um rendimento acima do CDI tradicional com risco baixo e liquidez diária.
No entanto, Moreira recomenda atenção ao limite de aplicação, que geralmente é baixo, e a duração da promoção. “O benefício da taxa mais alta, em alguns casos, costuma durar por um curto período. Por isso, são boas oportunidades para aproveitar de forma pontual, mas exigem acompanhamento”, aconselha.
Os “Cofrinhos” seguem uma lógica semelhante à dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) promocionais, que oferecem taxas atrativas, mas com diferentes restrições. A XP anunciou em maio um CDB nessa linha, com rendimento de 150% do CDI e limite de R$ 20 mil a R$ 60 mil para novos clientes. A Genial Investimentos também apresenta uma oferta especial até o dia 15 de julho: um CDB com 220% do CDI para novos clientes, com limite de R$ 1 mil a R$ 3 mil.
A diferença é que eles não se limitam a CDBs: por trás dessas ferramentas podem estar títulos públicos, fundos de investimento ou até RDBs – opções que funcionam de forma semelhante aos CDBs, mas não podem ser negociados no mercado secundário, por serem títulos nominativos e intransferíveis.
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Diego Endrigo, planejador financeiro CFP® pela Planejar, destaca que os investidores devem prestar atenção nos ativos que estão por trás da opção, verificando se eles oferecem liquidez imediata e se os rendimentos são garantidos ou promocionais. “Esses produtos não oferecem a mesma transparência ou proteção de ativos tradicionais. Por isso, é essencial entender exatamente onde o dinheiro está sendo aplicado”, destaca.
Mesmo se apresentando de uma forma mais lúdica ao investidor, os “Cofrinhos” não estão livres de taxas e regras. “É fundamental observar se há incidência de Imposto de Renda (IR) ou prazo de carência para resgates. Transparência é fundamental. O investidor precisa saber quais são os riscos envolvidos”, diz Endrigo.
Nos investimentos da “Caixinha Turbo” do Nubank e do “Cofrinho” do Mercado Pago, por exemplo, há a incidência do Imposto de Renda sobre o rendimento. As alíquotas diminuem conforme o tempo da aplicação:
Resgates realizados em até 180 dias: 22,5% sobre o rendimento;
Resgates realizados entre 180 e 360 dias: 20% sobre o rendimento;
Resgates realizados entre 360 e 720 dias: 17,5% sobre o rendimento;
Resgates acima de 720 dias: 15% sobre o rendimento.
“Caixinhas” e “Cofrinhos”: para quem compensa investir?
Endrigo afirma que as opções são interessantes para montar a reserva de emergência – o dinheiro guardado para imprevistos –, especialmente se oferecerem liquidez diária e rendimentos superiores a 100% do CDI.
Já Carlos Honorato, professor da FIA Business School, acredita que eles são bons para quem tem interesse em deixar o dinheiro rendendo na renda fixa e não deseja se arriscar em ativos com mais risco, como é o caso das ações da Bolsa.
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“O investidor deve verificar se a aplicação conta com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura valores de até R$ 250 mil por instituição. Investimentos que ultraam esse limite estão mais expostos ao risco”, afirma.
Endrigo, da Planejar, também observa que a modalidade não deve ser encarada como substituta de outros ativos de renda fixa, como títulos públicos e opções isentas de Imposto de Renda, como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) – afinal, cada produto tem características próprias em termos de segurança, liquidez e tributação.
Na visão do planejador financeiro, os “Cofrinhos” e “Caixinhas” são mais comparáveis aos CDBs de liquidez diária. “Para quem está começando, eles podem ser um bom ponto de partida. Mas, à medida que o investidor evolui, vale a pena diversificar e buscar produtos que combinem melhor risco, prazo e rentabilidade com seus objetivos pessoais”, destaca.