Ibovespa fecha maio em alta com capital estrangeiro e sinais de retomada econômica. O que esperar para junho?
Fluxo de investidores internacionais, inflação em queda e dados fiscais positivos fortaleceram o Ibovespa em maio, apesar dos desafios econômicos internos
Ibovespa, o principal índice da B3. (Foto: Adobe Stock)
O Ibovespaencerrou o mês de maio com três dias seguidos de queda, que o levou a ceder 0,58% na semana – mas o índice da B3 conseguiu preservar ganho de 1,45% no mês. Nesta sexta o Ibovespa fechou com baixa de 1,09%, aos 137.026,62 pontos. No ano a Bolsa acumula ganhos de 13,92%. O mês de maio, marcado pela máxima acima dos 140 mil pontos no dia 20 e recordes intradiários, registrou desempenho positivo em meio a um ambiente marcado por entradas de capital internacional, expectativa de manutenção da taxa básica de juros e sinais de retomada econômica. A combinação de fatores internos e externos contribuiu para a recuperação do principal índice da bolsa brasileira, que vem buscando estabilidade após um primeiro trimestre mais volátil.
Um dos principais vetores para a valorização do Ibovespa em maio, segundo especialistas, foi o aumento da participação de investidores estrangeiros no mercado local. A atratividade dos preços das ações brasileiras, somada à perspectiva de crescimento econômico moderado, gerou fluxo relevante de recursos para a B3. A valorização também foi favorecida pela desaceleração da inflação no país: a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alívio nos últimos três meses, reforçando a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa Selic no patamar atual na reunião de junho.
A curva de juros futuros acompanhou esse movimento e recuou durante o mês, o que beneficiou especialmente setores sensíveis ao crédito, como varejo, construção civil e bancos. Com o avanço do crédito privado — que cresceu 7,4% em abril — e o aumento do estoque total de crédito, o ambiente de financiamento se tornou mais favorável, estimulando o consumo e os investimentos.
Em paralelo, os dados fiscais e do mercado de trabalho também contribuíram para alimentar o otimismo. O governo central registrou superávit primário de R$ 17,782 bilhões em abril, demonstrando algum controle sobre as contas públicas, ainda que as incertezas quanto à política fiscal continuem no radar. O desemprego recuou e ficou abaixo das projeções no trimestre encerrado em abril, impulsionado por um recorde de vagas formais com carteira assinada.
Mesmo com esses indicadores positivos, o mês foi marcado por episódios que chamaram atenção em Brasília. A discussão sobre mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) gerou ruídos entre Legislativo e Executivo. O deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, afirmou que o país chegou ao seu limite tanto em relação ao aumento de tributos quanto à concessão de isenções fiscais. Do lado do governo, o ministro Fernando Haddad, em meio a pressões crescentes, itiu desgaste à frente da Fazenda, enquanto o presidente Lula teve agenda alterada por questões de saúde e o vice-presidente Geraldo Alckmin chegou a ser hospitalizado.
Apesar das turbulências políticas, os investidores mantiveram atenção voltada para os fundamentos econômicos. O crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre, divulgado nesta sexta-feira (30), superou as expectativas e reforçou a percepção de que a economia segue avançando, ainda que de forma gradual.
No exterior, os olhos se voltaram para os dados de inflação dos Estados Unidos, considerados determinantes para os próximos os do Federal Reserve (Fed) em relação à taxa de juros americana. A política monetária do banco central dos EUA segue influenciando os mercados emergentes, inclusive o Brasil, diante da sensibilidade ao custo de financiamento global e ao comportamento do dólar.
Sobe e desce: como as ações se comportaram em maio?
Enquanto algumas empresas ganharam força com expectativas de resultados positivos, recomendações de compra e eventos corporativos relevantes, outras enfrentaram perdas diante de dificuldades operacionais, endividamento elevado ou mudanças no ambiente competitivo.
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Entre os papéis com melhor desempenho no mês, Alpargatas (ALPA4), fora do Ibovespa, liderou os ganhos, com avanço de 23,38%. A valorização ocorreu após a sinalização de que a empresa pagaria dividendos e juros sobre capital próprio, o que atraiu investidores em busca de retorno recorrente. Na sequência, Lojas Renner (LREN3) subiu 24,57%, impulsionada pela expectativa de divulgação de bons resultados referentes ao primeiro trimestre, o que elevou a confiança do mercado em relação à performance da varejista de moda.
A Hapvida (HAPV3) registrou alta de 23,28%, beneficiada por uma recomendação de compra do BB Investimentos, que projetou valorização próxima de 40% para o papel até o fim do ano. A análise reforçou a estratégia de verticalização da companhia e sua posição de liderança após a fusão com a NotreDame Intermédica.
No setor de energia, a PetroRecôncavo (RECV3) teve avanço de 18,95%, apoiada na recuperação dos preços do petróleo e em uma perspectiva favorável para os resultados operacionais. Já Bradesco (BBDC4) subiu 18,09%, com investidores antecipando resultados financeiros positivos para o primeiro trimestre, fato que elevou o volume de negociações nas semanas anteriores à divulgação.
Outros setores também apresentaram comportamento positivo. Segundo levantamento de Carlos Honorato, professor da Fia Business School, a área financeira teve desempenho favorável com Itaú (ITUB4), alta de 5,26%, BTG Pactual (BPAC11), avanço mensal de 4,17%, e Itaúsa (ITSA4), que valorizou 3,46%. procurados por investidores em busca de ativos com perfil defensivo. No segmento de energia e saneamento, nomes como FL (FE3), +5,63%, Equatorial (EQTL3), +0,86%, Taesa (TAEE11), +0,42%, Copel (LE6), +9,71%, e Sabesp (SBSP3), +3,06%, tiveram boa atratividade — a última com repercussão direta da agenda de privatização.
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No setor de construção civil, Honorato diz que empresas como Cyrela (CYRE3), Plano&Plano (PLPL3) e Lavvi (LAVV3) responderam à retomada da demanda por imóveis de médio e alto padrão, registrando fortes valorizações. Já no mercado de proteína animal, JBS (JBSS3) recuou 6,53% e Marfrig (MRFG3) avançou 17,78%, com destaque para esta última, que anunciou fusão com a BRF (BRFS3), criando a nova MBRF Global Foods. Vivo (VIVT3) e Tim (TIMS3), no setor de telecomunicações, também apresentaram crescimento, sustentadas por margens operacionais estáveis e expansão dos serviços digitais.
Por outro lado, a Azul (AZUL4) foi o principal destaque negativo do mês, com queda de 38,10%. A companhia aérea entrou com pedido de recuperação judicial (Chapter 11) nos Estados Unidos para tentar reestruturar uma dívida próxima a R$ 31 bilhões. A decisão afetou a percepção do mercado e levou à forte desvalorização dos papéis.
O Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) caiu 28,84%, pressionado por dificuldades operacionais e resultado abaixo do esperado. A concorrência acirrada no setor também contribuiu para a queda das ações. A RD Saúde (RADL3) teve recuo de 25,40%, após divulgar números abaixo das projeções e sofrer reavaliações negativas de analistas, que alertaram para margens pressionadas e redução na expectativa de crescimento.
Mesmo com lucro em linha com o previsto, o Banco do Brasil registrou baixa de 19,08%, com analistas chamando atenção para riscos relacionados à carteira agropecuária e revisões de projeções de crédito. Por fim, a Minerva (BEEF3) perdeu 15,06%, após suspender projeções financeiras em razão da integração dos ativos adquiridos da Marfrig, aumento dos custos da arroba do boi gordo e preocupações com o nível de endividamento.
O que o investidor pode esperar do Ibovespa em junho
O Ibovespa inicia junho com uma tendência de leve otimismo, mas o cenário é marcado por cautela, segundo Kevin Oliveira, especialista em Renda Variável da Blue3 Investimentos. O principal índice da Bolsa brasileira, diz ele, mantém um canal de valorização relativamente estável, com resistência técnica próxima dos 133.750 pontos e zonas de e em 129.800 e 127.000 pontos.
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No campo macroeconômico, os juros continuam sendo o principal ponto de atenção. O Banco Central já sinalizou a possibilidade de manter a taxa Selic em 14,75% ao ano, o que gera dúvidas sobre a trajetória futura da política monetária. Os juros futuros precificaram uma queda maior nos últimos meses, mas sua sustentação depende da resposta dos indicadores de inflação e atividade econômica. Caso os dados decepcionem, o mercado pode reverter parte desse otimismo.
Entre os setores que mais influenciam o desempenho do índice, o petróleo continua em um cenário de volatilidade. As oscilações do barril, afetadas por decisões da Opep+ e tensões geopolíticas, impactam diretamente empresas como a Petrobras (PETR4). A estatal ainda lida com questionamentos sobre governança e a política de preços dos combustíveis, elementos que adicionam incerteza ao desempenho das ações.
Na mineração, a atenção se volta para a Vale (VALE3) cuja performance está atrelada à demanda chinesa por minério de ferro. Qualquer desaceleração na economia da China tende a pressionar os preços da commodity, o que pode comprometer os resultados da mineradora. Além disso, a companhia segue enfrentando desafios na área ambiental e em questões de governança corporativa.
Por outro lado, Oliveira avalia que o setor bancário desponta como uma das apostas para junho. Com juros elevados, bancos como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil conseguem sustentar margens financeiras mais fortes. “No entanto, o aumento da inadimplência, combinado com a crescente concorrência de fintechs, representa riscos para os lucros dessas instituições. Por outro lado, os bancos seguem atrativos para investidores que buscam dividendos consistentes. Principalmente em Banco do Brasil, que apresentou uma queda muito forte, e pode ser fruto de um movimento um tanto drástico demais no momento, e uma recuperação por parte do banco pode ser algo que aconteça para os próximos meses”, diz.
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A agenda fiscal também preocupa. Rumores sobre mudanças na tributação do IOF e possíveis revisões em outros impostos lançam dúvidas sobre o ambiente para investimentos. Qualquer proposta que afete diretamente o fluxo de capital ou o custo de crédito pode pressionar negativamente o Ibovespa. Apesar dos desafios, as projeções de médio prazo seguem positivas. Analistas estimam que o índice pode alcançar entre 145 mil e 150 mil pontos até o fim de 2025, desde que haja estabilização macroeconômica e contenção dos riscos fiscais.