Roberto Sertã é sócio-gestor de renda variável da MAG Investimentos, gestora com R$ 16 bilhões sob gestão (Foto: Mag Investimentos)
O estresse dos mercados parece ter dado trégua com o recuo das tensões comerciais sobre o pacote tarifário de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. No último dia 12, o país norte-americano e a China anunciaram acordo que, por 90 dias, estabelece tarifas de 10% para produtos americanos na China e de 30% para os chineses exportados aos EUA.
O acordo trouxe um alívio no exterior e ajudou o Ibovespa a renovar o seu recorde histórico por dois pregões consecutivos, nos dias 13 e 14 de maio, resgastando o entusiasmo dos investidores.
Para Roberto Sertã, sócio e diretor de renda variável da MAG Investimentos, ainda faltam insumos para entender se a desaceleração econômica dos EUA continuará moderada ao o de viabilizar o ciclo de queda de juros nos próximos meses e enterrar de vez o risco de recessão no país. Caso contrário, o sentimento de aversão ao risco deve prevalecer nos mercados.
“É preciso acompanhar os impactos desse ambiente externo, a possibilidade de estarmos em um ciclo de afrouxamento monetário e as implicações da corrida eleitoral em meio a um ambiente de baixa popularidade do governo atual. O desfecho positivo desses pontos pode levar o mercado local a um ambiente de bull market” [períodos em que as cotações estão em alta por um tempo prolongado], avalia o sócio da MAG Investimentos.
Desde o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em janeiro deste ano, os gestores de renda variável têm enfrentado ainda mais desafios para sobreviver ao caos nos mercados. As promessas do republicano em reduzir o déficit comercial via tarifas de importação desencadearam uma guerra comercial entre os países atingidos e derrubaram as bolsas de Nova York com riscos da maior economia do mundo entrar em recessão. Como mostramos nesta reportagem, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq acumularam perdas de 7,5%, 7,8% e 11,53%, respectivamente, nos 100 primeiros dias do novo governo.
Nessa toada, Sertã encontrou meios para driblar do pessimismo e aproveitar as oportunidades do mercado interno. Em abril, a gestora independente com R$ 16 bilhões sob gestão apostou na queda das ações de commodities, como Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3), e priorizou empresas com perfil mais defensivo da bolsa. “Priorizamos essas ações porque conseguem rear a inflação, possuem taxas de retornos elevados e previsibilidade de receita”, diz. O resultado dessa estratégia sobressaiu a média do mercado. No mês anterior, os fundos da MAG Investimentos tiveram retornos de até 5,5%, enquanto o Ibovespa fechou o mesmo período com um avanço de 3,6%.
Para os próximos meses, Sertã detalhou ao E-Investidor como a economia dos EUA, o ciclo de juros no Brasil e a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão determinantes para definir os rumos da bolsa de valores. Confira!
Publicidade
E-Investidor – O Ibovespa renovou a máxima histórica e se aproxima dos 139 mil pontos. A bolsa brasileira caminha para um período de bull market?
Roberto Sertã – A definição técnica de bull market é quando os preços dos ativos sobem mais do que 20% em relação às mínimas recentes. Logo, estamos próximos porque a bolsa sobe mais de 15% neste ano. Porém, isso é apenas uma definição com pouca importância prática. O mais relevante é entender se a desaceleração da economia americana continuará sendo moderada e, consequentemente, viabilizar o ciclo de queda nas taxas de juros dos EUA e demais países. No caso do Brasil, é preciso acompanhar os impactos desse ambiente externo, a possibilidade de estarmos em um ciclo de afrouxamento monetário e as implicações da corrida eleitoral em meio a um ambiente de baixa popularidade do governo atual. O desfecho positivo desses pontos pode levar o mercado local a um ambiente bull.
O mercado tem exibido sinais de otimismo com as eleições de 2026, principalmente depois dos últimos dados indicarem queda na popularidade do presidente Lula. É muito cedo para a eleição fazer preço?
O assunto eleição começou a ser precificada de maneira muito precoce. Atualmente, o cenário externo é preponderante. Isso não impede que, em determinadas janelas, o mercado consiga enxergar uma precificação diferente do Brasil em decorrência das eleições presidenciais. O mercado precisa saber quem vai concorrer com o presidente Lula e o que ele pretende fazer até a eleição para reconquistar a sua popularidade. Isso também pode fazer preço porque ele pode tomar decisões que podem piorar a situação das contas públicas.
Publicidade
No mercado externo, novos acordos fechados para as tarifas de importação. Como fica o risco de recessão da economia norte-americana?
Os acordos que foram fechados e os que estão em negociação vieram com uma postura mais equilibrada e sustentaram o bom desempenho das bolsas globais. No entanto, ainda vamos ver a magnitude dos impactos econômicos das tarifas de importação do governo Donald Trump para a economia americana e para o restante do mundo. Só vamos identificar o real impacto com os dados econômicos americanos do mercado de trabalho, de consumo e de investimentos. Caso esses números mostrem uma desaceleração mais acentuada, o risco de recessão volta a preocupar os mercados.
E como a MAG tem se protegido desse período de maior volatilidade?
Temos um fundo long-biased (estratégia voltada para posições compradas em ações que podem subir ou cair), que é o Mag Total Return, e dois fundos long-onlys (voltada exclusivamente para a posição comprada em ações) que são o Mag Selection e o Mag Brasil. O long-biased teve um retorno de 4,13% em abril porque se beneficiou com as posições compradas em put (opção de venda) de algumas empresas de commodities da bolsa, como Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3). Já os fundos Mag Selection e Mag Brasil tiveram ganhos de 5,5% e de 3,5%, respectivamente, e estavam concentrados em empresas do setor de bond proxy (ações com retornos estáveis) que apresentaram bons retornos. Priorizamos essas ações porque conseguem rear a inflação, possuem taxas de retornos elevados e previsibilidade de receita.