Dentro do grupo das commodities, o minério de ferro é uma das que chama atenção dos investidores por ser o principal componente da indústria. No mercado brasileiro, a participação do elemento é ainda mais destacada já que tem a Vale (VALE3) como a maior empresa do mercado nacional. No entanto, as alternativas para quem deseja investir no setor vão além das companhias nacionais.
De março de 2020 até o fechamento da terça-feira (22), a ação da mineradora saltou 144,16%, sendo cotada a R$ 87,39. A expressiva alta exemplifica o impulso que o setor teve com a pandemia. Vale ressaltar que, em junho de 2021, há menos de um ano, o papel chegou a ser negociado a R$ 120,45. Para analistas, ainda é possível esperar ampliação.
Além da Vale, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3), Bradespar (BRAP4) e CSN Mineração (CMIN3) são as outras representantes do setor na Bolsa brasileira.
Desempenho das mineradoras na Bolsa:
Ticker
Empresa
Preço
Retono no ano
Retorno em 5 anos
CBAV3
Companhia Brasileira de Alumínio
R$ 19,84
45,14%
BRAP4
Bradespar
R$ 28,85
15,45%
335,80%
VALE3
Vale
R$ 85,94
10,30%
246,95%
CMIN3
CSN Mineração
R$ 6,21
-7,86%
Fonte: Investing. Dados até o pregão de 23/02/22, às 12h
Demanda
Maior importador de minério, a posição da China é essencial para direcionar o setor. No início do ano, o governo chinês anunciou que vai acelerar a emissão de títulos e estimular investimentos com o intuito de evitar a desaceleração econômica no país.
Em análise do setor, o Goldman Sachs destaca que a diminuição de preços do minério de ferro devido à possível desaceleração com mais intensidade do que o esperado na China pode impactar os principais produtos de mineradoras, como é o caso da Vale. Em contrapartida, se o crescimento econômico da China e a demanda do país asiático surpreender positivamente após o estímulo, é possível ver os preços do minério de ferro com desempenho melhor do que o esperado.
No mesmo caminho, o pacote de estímulos nos EUA para construção e ampliação de infraestrutura devem pressionar commodities para cima no médio-prazo, segundo avalia João Beck, economista e sócio da BRA.
Para o longo prazo, a mudança de comportamento mundial com o maior consumo de produtos tecnológicos, especialmente com a projeção de aumento do uso dos carros elétricos, devem impulsionar ainda mais os minérios em geral, sobretudo cobre para cabos e lítio para baterias.
Além disso, o processo de transição energética para matrizes renováveis também deve impulsionar os metais. “Com a mudança da matriz energética, muitos acreditavam que o setor de mineração perderia grandes consumidores. Porém, se esqueceram do silício, cobre e lítio conseguidos via mineração, que facilita a produção de baterias elétricas e pás das hélices de energia eólica”, pontua Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake.
Investimento em minérios
Se por um lado a Vale é a maior participante no índice acionário nacional, outras empresas do segmento de metais e minérios são as grandes concorrentes da estatal brasileira no mercado global.
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Segundo levantamento da Stake feito com exclusividade para o E-Investidor, os retornos em empresas de mineração de atuação global chegam a 29,6% no ano, como é o caso da Alcoa (NYSE: AA), dos Estados Unidos. Na mesma lista, os papéis da Vale crescem 11%.
De acordo com Lima, o setor é amplo e ao escolher um ativo, é necessário analisar a amplitude de exposição tanto dos tipos de minérios como os locais de atuação.
“É claro que a performance da Vale é afetada pela macroeconomia do Brasil, porém, o que muitos investidores podem não se atentar é que a empresa também tem operações em outros países, incluindo Canadá, China e Reino Unidos, o que amplia as possibilidades”, indica.
O SPDR S&P Metals & Mining ETF (XME) é o principal fundo de índice do segmento, com exposição a diferentes mineradoras globais. De acordo com Lima, a alocação das companhias integrantes é vantajosa para os investidores que buscam ganhos com a ampliação do setor, especialmente porque são empresas capitalizadas, que demonstram interesse em fazer aquisições ao longo do ano.
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Além da norte-americana Freeport-McMoRan (FCX), que atingiu capitalização recorde, a australiana BHP estuda realizar uma aquisição significativa, tendo a Freeport-McMoRan, a suíça Glencore (GLEN) e a própria Vale como candidatas. Tais movimentos, como destaca Lima, mostram a dinamicidade e oportunidades de crescimento.
De 31 de dezembro de 2020 a 31 de dezembro, o XME cresceu 33,9% e cresce já 8,5% no acumulado de 2022.
10 empresas do EFT SPDR S&P Metals & Mining com maiores ganhos em 2022:
Código
Nome
Retorno desde 01/21
Preço
Retorno desde 01/22
2002
China Steel Corp
73.33%
US$ 2.86
25.44%
TECK.B
Teck Resources Subordinate Voting
87.30%
US$ 45.42
22.43%
AA
Alcoa Corp
216.77%
US$ 73.65
22.02%
RIO
Rio Tinto Plc
-1.28%
US$ 76.40
14.49%
BHP
Bhp Group Ltd
2.57%
US$ 69.08
14.48%
S32
South32 Ltd
71.59%
US$ 241.50
11.03%
VALE3
Cia Vale Do Rio Doce
-5.76%
US$ 86.19
10.50%
GLEN
Glencore
73.70%
US$ 426.25
9.96%
GMEXICOB
Grupo Mexico B
8.62%
US$ 96.36
8.16%
NUE
Nucor Corp
126.11%
US$ 118.73
5.03%
Fonte: Stake. Dados até o pregão de 23/02/22, às 12h
Minério e ESG
Por outro lado, um dos principais desafios para as empresas do setor é o compromisso com ESG, tripé que diz respeito às ações ambientais, sociais e de governança das empresas. Segundo o relatório Corporate Climate Responsibility Monitor 2022, mesmo que a Vale tenha se comprometido em se tornar neutra em carbono até 2050, falta clareza quanto à estratégia de redução de emissões da estatal brasileira.
De acordo com o analista da Stake, é necessário compreender que a transição energética só será completa em pelo menos dez anos, até lá, fontes não renováveis ainda serão utilizadas para a indústria, incluindo mineração. Apesar disso, o período de adaptação deve ser feito com boas práticas das empresas, especialmente após a percepção dos fortes impactos na extração, como aconteceu nas tragédia de Mariana (MG), em 2015, e Brumadinho (MG), em 2019.