As big techs seguem se adaptando ao cenário macroeconômico mais desafiador desde o início do ciclo de aperto monetário dos Estados Unidos. As companhias se movimentaram com diversas medidas, entre elas o massivo corte de funcionários, mas como o resultado das ações ainda não apareceram nos balanços financeiros das gigantes do setor tecnológico, os investidores brasileiros preferiram dar prioridade a outras empresas em 2023.
Segundo um levantamento da Dividendos.me, realizado com 190 mil clientes da plataforma e enviado com exclusividade ao E-Investidor, companhias como Apple e Meta (dona do Facebook) não apareceram neste ano no topo dos BDRs (título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior) mais negociados pelos investidores brasileiros, ao contrário do que ocorreu em 2022. O estudo é publicado anualmente, sempre em março, e leva em conta apenas as negociações de BDRs feitas neste mês.
As duas empresas perderam espaço para os ativos negociados no Brasil da Alibaba (BABA34), empresa do setor de software e tecnologia, e da Tesla (TSLA34), montadora de veículos elétricos. A Alphabet (GOOGL) foi a única que se manteve entre os três primeiros colocados, tanto no ranking deste ano quanto no ano ado.
Veja os BDRs preferidos pelos investidores brasileiros
Posição
março de 2023
março de 2022
1º lugar
Alibaba (BABA34)
Apple (AAPL34)
2º lugar
Tesla (TSLA34)
Facebook (FBOK34)
3º lugar
Alphabet (GOGL34)
Google (GOGL34)
4º lugar
Amazon (AMZO34)
Disney (DISB34)
5º lugar
Apple (AAPL34)
Tesla (TSLA34)
6º lugar
Meta (M1T34)
Amazon (AMZO34)
7º lugar
Disney (DISB34)
Microsoft (MSFT34)
8º lugar
Microsoft (MSFT34)
Alibaba (BABA34)
9º lugar
Nike (Nike34)
Mercado Livre (MELI34)
10º lugar
Berkshire Hathaway (BERK34)
Coca-Cola (COCA34)
Fonte: Plataforma Dividendos.me
O levantamento revela o receio de uma parcela de investidores brasileiros em relação à capacidade das big techs em entregar bons resultados. Isso porque desde março do ano ado o Federal Reserve (FED), banco central do Estados Unidos, segue com a política de aumento da taxa de juros para combater a inflação no país.
Além disso, ainda há o risco da economia norte-americana entrar em recessão diante do alto patamar da taxa de juros, que ainda não surtiu o efeito esperado nos preços.
“Empresas de tecnologia, por dependerem muito de capital de terceiros, têm elevação de seus custos afetando seus resultados. Isso gera uma queda em sua atratividade, uma vez que o valor dessas empresas está no fluxo de caixa futuro que ela vai gerar. Hoje, muitas delas ainda não estão gerando caixa”, diz Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.
O atual momento vivido pelas companhias é refletido em seus balanços. Em fevereiro, quando Apple (APPL), Alphabet (GOOGL), Amazon (AMZN) e Meta (META) divulgaram os seus balanços referente ao 4° tri de 2022, os resultados vieram abaixo das expectativas dos analistas ou sinalizaram baixo crescimento em relação a 2021.
A Alphabet, dona do Google reportou uma receita de US$ 76 bilhões, enquanto o mercado esperava um montante de US$ 76,5 bilhões. Esse montante representa um pequeno aumento de 1% em comparação ao quarto trimestre de 2021. Os números da Apple também decepcionaram. A companhia reportou uma receita de US$ 117,15 bilhões contra os US$ 121,10 bilhões que os analistas esperavam. Veja os detalhes nesta reportagem.
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Diante do baixo crescimento, as companhias seguem focada na reestruturação dos seus negócios na tentativa de reduzir custos e focar na eficiência operacional. Desde o fim do ano ado, as companhias realizam uma grande onda de demissões como uma forma de se adequar ao novo cenário que ficou ainda mais incerto com a falência dos bancos Silicon Valley Bank e do Signature Bank e, agora, com a venda do Credit Suisse para o UBS.
“O resultado desse primeiro trimestre será fundamental para imaginar o que vem pela frente em 2023. A expectativa é que os números sigam o ritmo do último trimestre de 2022, trazendo ainda perda de rentabilidade, que continua sendo pressionada pela inflação e alta de juros nos mercados globais”, diz Junior Borneli, fundador da StartSe.
Por que BDRs de Alibaba e Tesla são os preferidos?
O otimismo em relação aos BDRs da Alibaba e da Tesla tem razões particulares. No caso da empresa chinesa, a preferência trata-se de uma aposta dos investidores brasileiros com a reabertura da economia da China.
A expectativa é que a companhia tenha bons resultados com a retomada da potência asiática, após o fim das restrições de covid-19 e com o anúncio do pacote de incentivos fiscais, feito no fim do ano ado. “O valuation atrativo também foi uma das razões. Hoje, a Alibaba negocia a 6,5xEV/Ebitda. Ou seja, bem abaixo dos seus pares listados em bolsa”, diz Gentile.
Já em relação à Tesla, há expectativas do mercado sobre transição energética. Como a empresa é a principal montadora de veículos elétricos, a tendência é que tenha uma vantagem competitiva no mercado nos próximos anos, quando essa realidade estiver mais consolidada. “A implantação de tecnologias mais limpas é incentivada pelos governos. Um investidor que procura aumentar seu patrimônio irá procurar empresas com mercados crescentes (como o caso dos veículos elétricos) e com resultados que deem base a esta ideia”, acrescenta o head de análise da Dividendos.