Desde que a pandemia de coronavírus fez o Ibovespa amargar queda de 30% em março, aos 73.019 pontos, o índice entrou em trajetória de recuperação. Agora, a bolsa brasileira enfrenta uma montanha russa: desde agosto tem patinado entre os 90 e 100 mil pontos.
“Todo mundo se perguntou como seria a recuperação pós-pandemia: se seria em V, em W e etc. Agora o mercado está brincando que a recuperação está em K, ou seja, alguns segmentos se recuperaram muito, enquanto outros continuam caindo. Se você tira meia dúzia de ativos com as maiores valorizações, o Ibovespa fica com queda de quase 30%”, afirma João Beck, especialista em investimentos e sócio da BRA.
Fora as particularidades de cada setor, que contribuíram para o zigue-zague do índice, incertezas relacionadas ao cenário doméstico e externo também fazem com que a carteira teórica não se sustente no patamar de 100 mil pontos. Por aqui, o fator que preocupa os investidores são as dúvidas em relação à seriedade com que o Governo encara o teto de gastos e, consequentemente, a trajetória da dívida pública.
Para o E-Investidor, os especialistas fizeram um balanço da performance dos ativos com as piores rentabilidades no acumulado do ano. O levantamento das ações foi feito pela plataforma Economatica. Veja o ranking completo:
Os piores do ano
Nome
Código
Retorno (%)
1
IRB Brasil
IRBR3
-82,79
2
Embraer
EMBR3
-69,34
3
CVC Brasil
CVCB3
-69,01
4
Cogna ON
COGN3
-62,82
5
Azul S.A.
AZUL4
-59,85
6
Cielo
CIEL3
-59,11
7
BR Malls Par
BRML3
-54,37
8
Gol
GOLL4
-54,02
9
BRF SA
BRFS3
-51,7
10
Yduqs Part
YDUQ3
-49,92
11
Cia Hering
HGTX3
-49,18
12
Iguatemi
IGTA3
-42,73
13
Multiplan
MULT3
-42,27
14
Petrobras
PETR3
-41,16
15
Brasil
BBAS3
-39,21
16
Bradesco
BBDC3
-38,39
17
Petrobras
PETR4
-38,14
18
CCR SA
CCRO3
-36,9
19
Ecorodovias
ECOR3
-36,81
*O levantamento considera o retorno entre 31 de dezembro de 2019 e 28 de outubro de 2020
Piores desempenhos: restrição de circulação
O pior retorno no acumulado do ano ficou com o IRB Brasil RE (IRBR3). Vítima de escândalos que envolveram a descoberta de uma fraude de R$ 60 milhões, processo contra executivos da companhia e contestação de números em balanços, as ações do ressegurador estão em queda de mais de 80% no ano.
Quem tinha ativos do IRB na carteira desde o início do ano, viu o patrimônio derreter junto com o preço das ações: em janeiro, os papéis estavam no patamar de R$ 30, contra R$ 6 na última semana. Depois de tantos problemas, Beck, da BRA, ainda não vê uma luz no fim do túnel para a ex-queridinha da Bolsa. “Evitamos olhar para companhias em que a análise depende de você estar dentro da empresa para conseguir saber o que está acontecendo”, afirma Beck.
Já Hasegawa tem uma visão mais positiva. “A nova equipe está fazendo um ótimo trabalho interno, principalmente com a parte comercial. Acredito que ainda não é o momento de comprar, mas ela vai voltar a ter rentabilidade”, diz.
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Com exceção do ressegurador, cujo principal fator para baixa foi a governança, na sequência dos piores retornos estão setores muito atingidos pelo isolamento social causado pela pandemia. Aéreas e empresas relacionadas ao turismo, como Embraer (EMBR3), CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), amargam quedas que variam entre 50% e 70% nos últimos dez meses.
O segmento de shoppings também está entre os piores desempenhos, junto com os players de educação. “O setor aéreo e shoppings tiveram suas atividades completamente paralisadas por vários meses”, recorda França. “Esses players já estão em recuperação, mas a retomada mais consistente mesmo vem só com a chegada da vacina.”
No ano, os papéis do Iguatemi (IGTA3), Multiplan (MULT3) e BR Malls (BRML3) caem 42,73%, 42,27% e 54,37%, respectivamente. Os representantes de educação são a Cogna, com 62,82% de queda e Yduqs, com 49,92% de encolhimento nos preços. Mas não foram só esses setores que despontaram negativamente, os bancos tradicionais, entre eles Bradesco e Banco do Brasil, também marcam presenta na lista de piores retornos.
“Os bancões decaíram por motivo simples. O mundo estava dando preferência por empresas de tecnologia em vez de valor e qualidade”, diz Hasegawa. “Com a Selic baixa, muitos acreditam que eles não terão a mesa rentabilidade de antes, o que eu discordo.”
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Na visão de França, fatores de crédito também encurtaram os retornos das instituições financeiras tradicionais. “Houve uma grande preocupação sobre o impacto da crise nos grandes indicadores de crédito, como inadimplência, e esses bancos de forma acertada aumentaram as provisões. Isso gerou uma preocupação nos investidores com os resultados dessas empresas.”