JBS (JBSS3) é a empresa que distribui o maior valor por ação em dividendos na semana (Foto: Adobe Stock)
A proposta de dupla listagem da JBS(JBSS3) foi aprovada pelos acionistas da empresa nesta sexta-feira (23). A base acionária da companhia foi para uma nova holding com sede na Holanda, a JBS N.V. A operação torna viável a dupla listagem das ações da companhia na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e, no Brasil, por meio de BDRs Nível II na B3. Para analistas do mercado financeiro consultados pelo E-Investidor, a decisão foi positiva e torna o papel ainda mais atrativo.
Aprovada por maioria dos votos, a proposta envolve a incorporação da totalidade das ações da atual JBS S.A. pela JBS Participações, com posterior emissão de papéis preferenciais obrigatoriamente resgatáveis. Duas ações da JBS S.A. darão direito a uma preferencial, que será automaticamente convertida em um BDR lastreado em uma ação Class A da JBS N.V., que será negociada na Nyse.
Para João Abdouni, analista da corretora Levante, a internacionalização crescente da empresa pode impulsionar uma valorização adicional de suas ações: investidores, lembra ele, tendem a valorizar companhias com presença global e diversificação geográfica de receitas. Segundo Abdouni, isso reduz a exposição a riscos específicos de um único mercado e amplia as oportunidades de crescimento.
“No caso da JBS, a atuação em diversos continentes, com marcas fortes e o a novos mercados consumidores, fortalece a percepção de que se trata de uma companhia global consolidada, o que pode se traduzir em maior confiança por parte dos investidores institucionais e individuais”, diz Abdouni.
A equipe da Genial Investimentos diz que fundos ativos podem aumentar suas posições temporariamente, focados na reprecificação do valor da companhia, e gradualmente desinvestir suas posições para embolsar ganhos – considerando que os fundamentos estão se suavizando (compressão de margens nas principais unidades de negócios em 2025). “Os fundos ivos, por outro lado, devem alimentar o interesse contínuo nas ações, especialmente se elas forem indicadas para inclusão nos índices (Russell 1000 e, no futuro, o S&P 500)”, afirmam Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza, que assinam o relatório da Genial.
No entanto, os especialistas lembram a operação tem alguns riscos – por isso, a votação para a listagem da JBS não foi unânime. Humberto Aillon, especialista em Gestão Tributária e Mercado Financeiro na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), observa que ter a empresa listada fora do país aumenta a complexidade de governança. Repercussões negativas sobre esse tema podem afetar significativamente à precificação das ações.
Outro ponto levantado por ele é que o custo de manter a companhia listada fora pode ser bem elevado, gerando impacto no preço sobre o lucro, além de gerar pressão para a empresa capturar a alta no valor da ação. “Tivemos outras empresas brasileiras que buscaram listar fora do B3 com a expectativa de atrair investidores internacionais e ao final viraram ações sem liquidez e sem visibilidade. Com certeza isso deve estar no radar do conselho da JBS”, diz Aillon.
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O analista da Levante, João Abdouni, lembra que as recentes mudanças na estrutura societária da companhia elevaram o poder dos controladores nas decisões estratégicas por meio do aumento de seus direitos de voto. Segundo ele, isso pode resultar em preocupações do mercado com a diluição do poder de voto dos minoritários – o que deve deixar o investidor em alerta.
Para Genial Investimentos esse ponto deve deixar o investidor desconfortável – por isso, a aprovação do fato entre os minoritários foi apertada. Os especialistas dizem que a aprovação da estrutura na assembleia já era provável, uma vez que os acionistas minoritários estarão atentos à tendência de aumento dos preços das ações no curto prazo.
O que fazer com as ações da JBS agora?
A Levante avalia as ações JBSS3 como uma boa alternativa de investimento e mantém a recomendação de compra. A empresa, argumentam os analistas, apresenta fundamentos sólidos, com forte geração de caixa, diversificação geográfica e de portfólio de produtos, além de uma estrutura de capital robusta.
“Apesar de desafios no curto prazo, como a volatilidade dos preços das commodities, vemos um bom potencial de valorização no médio e longo prazo. A JBS está bem posicionada para se beneficiar de uma possível recuperação global da demanda por proteínas e de movimentos estratégicos que visam o crescimento sustentável, como investimentos em inovação e sustentabilidade”, diz Abdouni.
Humberto Aillon, da FIPECAFI, ressalta que a JBS possui operação bem diversificada e resultados consistentes, como foi apresentado no primeiro trimestre de 2025. A companhia cresceu 39% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). O especialista diz que a empresa tem capilaridade no Brasil e EUA, com crescimento no segmento de aves e suínos. Por causa disso, ele vê robustez da empresa para superar crises locais. Por esses motivos, entende que a ação da companhia é bem atrativa para o investidor.
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“Com a listagem nos EUA, a continuidade do crescimento no setor de proteínas e aumento da penetração dos mercados internacionais, a empresa tem ação com possibilidade de valorização em torno de 18%, oscilando entre R$ 47 e R$ 49 por ação”, prevê Aillon.
A Genial Investimentos diz que o múltiplo da ação da JBS permanece abaixo dos níveis praticados em relação a seus pares nos EUA, como a Tyson Foods (8,4 vezes) e a própria Pilgrim’s Pride-PPC (6,6 vezes). Na Europa, as empresas de alimentos e bebidas listadas em Frankfurt e Londres negociam a uma média de 7,2 vezes, enquanto seus pares asiáticos negociam a 6,8 vezes.
“A convergência da JBS (JBSS3) para a média global de 7,5 vezes implicaria em uma valorização potencial de quase 30% no preço das ações, mesmo que se mantenha uma diferença de +0,5x em relação aos pares — o que modelamos como nosso cenário base”, dizem Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza. A Genial tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 54,50, uma alta de 29% em relação ao último fechamento.