Brasil tem potencial de ser um grande beneficiário do capital estrangeiro que procura energia renovável, diz o sócio da Equus Capital, Felipe Vasconcellos. (Imagem: Equus)
Os investidores estão cada vez mais atentos às empresas engajadas ambientalmente. Um relatório produzido pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) revelou que o Brasil foi o país que mais recebeu investimentos internacionais para projetos de energia renovável entre 2015 e 2022, um montante de US$ 114,8 bilhões.
Ainda assim, há uma lacuna entre a produção atual e uma demanda futura. Segundo Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, para que não falte energia no País, o crescimento na geração precisa ser de, no mínimo, 13% até 2027, alcançando 208,1 GigaWatts (GW). Essa não é uma preocupação que se limita ao Brasil. Há uma aliança global que já projeta um investimento anual superior a R$ 27 trilhões na transição energética – três vezes mais do que os R$ 9 trilhões alocados em 2022. O “Visão 2050” almeja que, nos próximos 27 anos, os países que aderiram à causa alcancem o patamar de energia limpa desejado.
Na ponta do mercado financeiro, algumas iniciativas têm ganhado corpo, mas ainda há espaço para crescer. A gestora Equus, por exemplo, lançou um fundo aberto para angariar R$ 1 bilhão visando a constituição de uma empresa de energia renovável.
“Dois anos atrás, quando os reservatórios ficaram vazios, quase tivemos um apagão no Brasil e isso pode se repetir. Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) este ano deve crescer mais de 3% e, quanto maior é o crescimento econômico, mais energia é necessária”, explica o executivo, que tem agem pela Tarpon Capital, onde ficou por quase uma década.
O relevância do tema cresceu ao ponto de a própria Bolsa brasileira, a B3, já ter um índice de sustentabilidade, o ISE. O indicador avaliar o desempenho médio dos ativos de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade. No fechamento desta sexta-feira (24), o ISE encerrou em baixa de 1,3%, aos 3.485 mil pontos, Entretanto, reporta 10,35% de alta no acumulado do ano, enquanto o Ibovespa fechou o rali do dia em baixa de 0,84%, aos 125.341 pontos. Na semana, o índice subiu 0,60%.
Em paralelo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou neste ano uma resolução que exige, de forma voluntária, a elaboração e divulgação de relatórios financeiros relacionados à sustentabilidade por companhias abertas, fundos de investimento e companhias securitizadoras. A partir de 2026, a divulgação se tornará obrigatória.
E-Investidor – O Sr. diria que o setor de energia renovável está ganhando escala no Brasil?
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Felipe Vasconcellos – Existe um esforço global em andamento para tornar o mundo carbono neutro até 2050 para frear os efeitos das mudanças climáticas e a transição energética está no centro das discussões. É impossível que essa meta seja atingida sem uma migração em larga escala de combustíveis fósseis (80% da matriz mundial) para fontes renováveis. O Brasil sai na frente nesta corrida, uma vez que possui uma matriz elétrica com mais de 80% de participação de fontes renováveis. Além disso, o País conta ainda com um grande potencial inexplorado para novas plantas de geração solar, eólica e de biocombustíveis. A combinação desses fatores abre a possibilidade para que o Brasil se torne um exportador de energia renovável global na forma de produtos produzidos com energia limpa, como hidrogênio verde, combustíveis sustentáveis e aço verde, colocando o País em evidência global.
O investidor estrangeiro tem interesse nesse nicho?
Com certeza. Diversos investidores internacionais possuem metas de alocação de recursos em projetos de energia renovável e o Brasil tem o potencial de ser um grande beneficiário desse fluxo de capital.
Por que empresas como a Petrobras estão tão interessadas em energia limpa?
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As empresas tradicionais do setor de óleo e gás estão olhando para seu futuro com preocupação. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda por petróleo deve atingir seu pico em 2030 e ar por um processo de redução a partir deste ponto, sendo gradativamente substituída por fontes renováveis de energia. Por este motivo, empresas tradicionais como a Petrobras e outras precisam se reinventar e diversificar suas fontes de receita para garantirem a sobrevivência no longo prazo.
Que tipo de captação de energia o País propicia?
Como o potencial hidrelétrico brasileiro já é bastante explorado, é difícil vislumbrar grandes projetos de hidrelétricas saindo do papel no curto e no médio prazo devido ao seu custo e impacto ambiental. Dessa forma, o País deve priorizar desenvolver o potencial ainda abundante de energia solar e eólica, principalmente onshore (em terra), uma vez que seu custo é consideravelmente menor que as offshore (no mar). Além disso, novas fontes renováveis têm se mostrado cada vez mais importantes para a diversificação da matriz elétrica brasileira, como a geração de energia a partir de biomassa, resíduo da indústria sucroalcooleira e biogás.
Qual é o principal desafio do Brasil para avançar nessa agenda?
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O Brasil precisa atuar em três frentes: viabilização de investimentos em novas usinas elétricas que utilizem fontes renováveis; ampliação das redes de transmissão; e criação de um ambiente de negócios que promova o desenvolvimento de empresas que possam se beneficiar dessas condições.