Fachada da Caixa Econômica Federal. Foto: Adobe Stock
A carteira de crédito imobiliário da Caixa Econômica Federal com recursos financiados pela caderneta de poupança cresceu 9,1% no primeiro trimestre, abaixo do piso da meta para 2025, que prevê avanço de 9,5% a 13,5%. Mas o banco público espera que haja uma aceleração nos próximos meses e a expansão este ano fique perto do centro da meta, e prevê um 2025 de “voo mais tranquilo” em comparação com o ano ado.
“Estabelecemos uma curva de produção e ela vem sendo executada bem em cima do que planejamos. A rede de varejo vem entregando”, disse o vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Marcos Brasiliano, em entrevista coletiva para comentar os resultados do banco, que viu seu lucro líquido contábil saltar 134% no primeiro trimestre, para R$ 5,8 bilhões, valor que há pouco tempo o banco lucrava em um ano inteiro.
Já a carteira total de crédito do banco cresceu 10,7% no primeiro trimestre, chegando a R$ 1,2 trilhão. O avanço foi puxado pelo financiamento à habitação, e especificamente com origem em recursos no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), segmento que a Caixa cobre praticamente sozinha. A expansão da carteira superou o topo da meta, que prevê avanço de 6,5% a 10,5% este ano.
Na margem financeira bruta, o banco cresceu 4,8% no primeiro trimestre, abaixo do piso da meta, que prevê avanço este ano de 6,5% a 10,5%. Com a recuperação da carteira comercial de crédito e maior controle de despesas financeiras, o banco espera acelerar o avanço da margem, podendo chegar no centro do projetado.
Sem turbulência
A vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês da Silva Magalhães, prevê um “voo mais tranquilo” este ano no financiamento imobiliário. A razão é que em 2024 o banco público acelerou as concessões de financiamento imobiliário na primeira metade do ano e depois teve que pisar no freio. “Houve crescimento muito forte no primeiro semestre, o que nos obrigou a tomar medida de restrição no segundo semestre. Queremos ter um voo mais tranquilo neste ano”, disse ela.
Um alívio para financiar o crédito imobiliário foi a possibilidade do fundo social do pré-sal destinar R$ 15 bilhões este ano para custear a crédito à habitação de interesse social. “Embora não seja uma solução estrutural, é um alívio, que nos possibilitou criar uma linha para a classe média”, disse a executiva, ressaltando que a procura por uma forma mais estrutural para resolver o financiamento da habitação continua.
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Para a classe média, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, afirmou que, com a ampliação do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para esse segmento, a Caixa pretende fazer 120 mil financiamentos este ano para este público. “A Caixa tem 99% de participação no MCMV”, disse, ressaltando que, pela primeira vez, os financiamentos do programa superaram aqueles financiados fora dele, o que evidencia o impacto econômico e a força do MCMV.
No crédito imobiliário, a Caixa chegou a 66,8% do mercado ao final de março. A carteira total de habitação (FGTS e poupança) terminou o trimestre em R$ 850 bilhões, aumento de 12,7% em 12 meses, acima do topo da meta (11,5%). Já as contratações de financiamento imobiliário caíram 4,9% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2024, somando R$ 49 bilhões.
Calotes e resolução do BC
Apesar da alta da inadimplência no primeiro trimestre, Vieira disse que a taxa de calotes está “sob controle e não nos preocupa.” “Há recrudescimento da inadimplência do agro em todo o sistema financeiro.” A taxa, considerando os atrasos acima de 90 dias, terminou março em 2,49%, ante 1,97% no quarto trimestre e 2,34% no primeiro trimestre de 2024.
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A alta da inadimplência foi em parte explicada pela entrada em vigor da resolução 4.966 do Banco Central, que aumentou o rigor no provisionamento dos bancos, levando em conta agora também a expectativa futura de perdas. Segundo Brasiliano, o período de permanência de crédito como operação inadimplente é maior do que na regra anterior do BC. Assim, o prazo para lançamento em prejuízo deste crédito foi alongado.
Ao contrário do Banco do Brasil (BBAS3), que tem carteira grande voltada ao agronegócio, mais arriscada e com inadimplência maior, a Caixa sofreu menos para se adaptar à nova regra do BC. O BB precisou colocar suas projeções em revisão, incluindo a de lucro e margem financeira, enquanto avalia os impactos da entrada em vigor da resolução.
A vice-presidente de Risco do banco, Henriete Bernabé, disse que, pelo fato da composição da carteira de crédito da Caixa ser mais forte em financiamento imobiliário, que tem a garantia real do imóvel, ou seja, de risco menor, o banco público deve ser o com menor impacto nos ajustes da resolução. “A garantia real faz a diferença no momento da recuperação do crédito”, disse a vice-presidente.
A executiva contou que a Caixa já vinha se preparando para a entrada em vigor da resolução, e antecipou provisões. No primeiro trimestre, a despesa de provisão para devedores duvidosos da Caixa caiu 58%, somando R$ 2,1 bilhões. Mas o volume de provisões se manteve, disse Brasiliano.