Fachada de um prédio do Credit Suisse, em Winterthur, na Suíça
(Foto: Reuters/Arnd Wiegmann)
A chance de um ciclo de aperto monetário maior do que o esperado nos Estados Unidos apresenta riscos diretos ao processo de desinflação do Brasil, avalia o Credit Suisse. Em relatório, o banco observa que uma redução do diferencial de juros teria impactos negativos sobre o real e elevaria a inflação do País, ameaçando a meta do IPCA de 2023 e, no limite, também a de 2024.
“Atualmente, projetamos um IPCA de 4,4% em 2023. No entanto, se o mercado reprecificar a taxa dos Fed Funds no fim de 2023 de 3,0% para 4,5%, a nossa projeção de IPCA cresceria em 0,5 ponto porcentual, para 4,9% no fim de 2023, contra o centro da meta de 3,25% e o limite superior de 4,75%”, escrevem a economista-chefe do banco no Brasil, Solange Srour, e os economistas Lucas Vilela e Rafael Castilho.
O cenário-base do Credit Suisse considera que o Federal Reserve (Fed) deve aumentar os juros até 3,25% no fim de 2023. Nas contas do banco, cada 1 ponto porcentual de juros acima disso implica em uma depreciação da taxa de câmbio real em 8% em um trimestre, uma alta de 0,4 ponto no IPCA em oito trimestres, redução de 0,2 ponto do PIB em quatro trimestres e uma alta de 0,7 ponto da taxa Selic em quatro trimestres.
“Baseado no intervalo de confiança para os impactos estimados, vemos uma depreciação da taxa real de câmbio de 11% no primeiro trimestre e um aumento de 0,6 ponto da inflação ao consumidor em oito trimestres após o choque”, explicam os analistas. Os exercícios do banco mostram que, caso o Fed levasse os juros a 6,0% no fim de 2023, o IPCA atingiria 5,1% em 2024 – acima do teto da meta (4,5%) pelo quarto ano seguido.
Pela regra de Taylor, observa o Credit Suisse, o presidente do Fed, Jerome Powell, deveria aumentar os juros nos EUA a um nível entre 7,0% e 8,0% para conter a inflação, embora a maior parte do mercado espere um nível próximo de 3,0%. No Brasil, o banco espera taxa Selic terminal de 14,0%, a ser atingida em agosto.