O dólar atingiu a sua maior cotação desde agosto de 2022. (Foto: Adobe Stock)
Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em baixa ao longo da tarde com a melhora do apetite ao risco no exterior e o avanço mais forte das ações da Petrobras (PETR3;PETR4), ainda na esteira da liberação parcial de dividendos extraordinários.
O arrefecimento das tensões geopolíticas, na ausência de novos atritos entre Irã e Israel, abriu espaço para realização de lucros no mercado doméstico, já que a divisa ainda acumula alta de mais de 3% no mês. Houve também relatos de entrada de fluxo comercial e de continuidade do desmonte de posições defensivas por estrangeiros no mercado futuro. A perspectiva de que possa haver corte mais moderado da taxa Selic daqui para frente, após várias declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contribui para dar e ao real.
O banco JPMorgan divulgou hoje à tarde mudança na projeção de taxa Selic no fim do atual ciclo de redução de 9,5% para 10%. Com um aprofundamento das perdas nos minutos finais de negociação, o dólar à vista fechou em baixa de 0,59%, a R$ 5,1687, na mínima da sessão e nos menores níveis em mais de uma semana. Na máxima, pela manhã, tocou R$ 5,2181. Apesar da sequência de dois pregões de queda, a divisa ainda acumula ganhos de 3,06% em abril. No ano, a valorização é de 6,50%.
“Hoje é um dia típico de ajuste, com o exterior mais tranquilo. A liberação de parte dos dividendos extraordinários da Petrobras agradou aos investidores e amenizou um pouco o mau humor em relação ao governo”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que trabalha com uma banda para a taxa de câmbio entre R$ 5,10 e R$ 5,30 no curto prazo. “O mercado mantém uma postura defensiva com a questão fiscal, ainda mais com os atritos entre o governo e o Congresso”.
Em sessão conjunta na quarta-feira (24), o Congresso vai apreciar vetos do presidente Lula. As atenções se voltam a possível derrubada do veto a R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. Hoje, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que os atritos entre ele e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é um “episódio superado”. “O reforço do caixa com os dividendos da Petrobras não reduz o cenário negativo.
A popularidade de Lula em questionamento pressionará ainda mais a demanda por gasto público e crédito”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que vê a queda do dólar hoje como uma realização de lucros, com perspectiva de manutenção de diferencial de juros atraente por mais tempo. “Mas é algo pontual no contexto fiscal e de juros nos Estados Unidos. Desde fevereiro subiu bastante a posição comprada em dólar”, diz Velho.
Em evento da Legend Capital em São Paulo, o presidente do Banco Central voltou a chamar a atenção para a possibilidade de mudança no ritmo de cortes da taxa Selic em razão do aumento das incertezas. Se houve uma melhora do ambiente, o BC volta para o caminho que havia traçado. Já se o clima de incertezas perdurar e “criar ruídos crescentes”, então o BC teria que diminuir o “pace” de cortes da taxa básica. Campos Neto reiterou que o BC vai intervir no câmbio apenas se houver distorções no mercado, e não para combater mudança da taxa de câmbio provada por alteração dos fundamentos econômicos. “Se tiver uma percepção de que o risco piorou, o câmbio vai refletir”, disse.
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No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – operou em ligeira baixa ao longo da tarde, acima da linha dos 106,100 pontos. A moeda americana caiu em relação a divisas de países exportadores de commodities desenvolvidos, como dólar australiano e canadense, mas subiu na comparação com emergentes pares do real, como o peso mexicano e rand sul-africano.