Após um tombo de quase 10% em abril, os preços do minério de ferro se recuperaram parcialmente em maio. O contrato futuro para entrega em setembro na Bolsa de Dalian, na China, fechou o mês negociado a US$ 97,68 a tonelada, um recuo de 0,35% no comparativo mensal. Para o ano, a expectativa é de que a cotação não e de US$ 100, o que não se via desde 2019, quando chegou a US$ 93.
Segundo Daniel Sasson, do Itaú BBA, em maio, há sazonalidade na oferta de minério de ferro, que aumenta com a volta da produção no Brasil e na Austrália, após um primeiro trimestre afetado por eventos climáticos. Além disso, Sasson ressaltou que a suspensão das tarifas impostas à China pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também podem ter aliviado a pressão sobre a commodity.
“Acho que as principais preocupações dos investidores hoje se dão por conta de uma menor visibilidade com o crescimento global”, disse Sasson. “O minério entre US$ 95 e US$ 100 a tonelada continua sendo muito saudável. Na verdade, é uma das commodities que, desde o começo do Liberation Day, que agora deu até uma desescalada, é uma das commodities que menos sofreu, quando comparada, por exemplo, aos preços de petróleo.”
O Itaú espera que o preço médio do minério de ferro encerre o ano a US$ 95 a tonelada, ante uma estimativa de US$ 100. “A média de preços de minério de ferro no ano até agora segue em US$ 102. A leitura, nesses primeiros cinco meses do ano, é até positiva, é de resiliência. Mas as preocupações com o crescimento global estão no radar dos investidores e talvez esperem um minério de ferro mais fraco no segundo semestre”, disse Sasson.
A equipe de commodities do Morgan Stanley também revisou o preço médio do minério de ferro para o ano. O banco projeta, agora, a commodity sendo cotada, em média, a US$ 100 a tonelada em 2025 e US$ 95 a tonelada em 2026. “A mudança na dinâmica de oferta e demanda {S&D} se deve à menor demanda, especialmente da China, combinada com o aumento da oferta”, destaca o banco.
Ricardo Viana, analista de commodities, diz que maio foi um mês de descompressão de risco e isso ajudou na recuperação dos preços do minério de ferro. “Costuma ser um período em que o preço vai sozinho, a demanda na China é maior por causa da volta do setor de construção civil”, disse Viana. “Fora isso teve uma descompressão de risco por causa do alívio tarifário, (Donald) Trump voltando atrás em relação à China.”
Para ele, o preço médio do minério de ferro deve se manter neste patamar neste ano, pois não há grande pressão em relação à oferta ou demanda. Situação que pode mudar em 2026/27, com a entrada em operação da mina de Simandou, da Rio Tinto, na África. “A oferta está estável há muitos anos, desde o projeto S11D da Vale em Carajás (PA). Mas isso muda no ano que vem, porque esses projetos têm custo mais baixo e com minério de alta qualidade. E o preço deve ter uma queda em relação aos níveis atuais.”
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Igor Guedes, da Genial Investimentos, já trabalha com perspectivas de preços mais contracionistas com a entrada do projeto da Rio Tinto. Segundo ele, a commodity deve ser negociada a US$ 90 em 2026, US$ 85 no ano seguinte e US$ 75 em 2028. “E um cenário de demanda em declínio nos próximos anos. E isso tem mais a ver com oferta do que com demanda, os fundamentos que fariam o preço retornar aos níveis acima de US$ 100 é difícil de imaginar”, disse Guedes. “Pode ser que aconteça alguma coisa do lado da oferta que equilibre o preço, mas, com as variáveis de hoje, é difícil acontecer.”
Além do efeito Simandou, os fundamentos econômicos na China, que sustentaram o minério de ferro acima de US$ 100 a tonelada, estão em desaceleração. “O início do ano vimos uma antecipação das encomendas de aço por conta da possibilidade de revisão das tarifas de exportação com os Estados Unidos. Agora, o movimento está o contrário. Os estoques das usinas estão aumentando, há um processo de ressaca de demanda.”
Guedes ressalta que o PMI industrial da China, que no início do ano estava acima de 50 pontos, deve vir entre 48 e 49 pontos. “A taxa de utilização das usinas na China, que estava acima de 90%, está reduzindo semana a semana em 0,5 ponto porcentual. Os estoques de aço estão subindo e as siderúrgicas estão com dificuldade de rear”, disse. “O sentimento não é positivo, a situação ainda é bastante delicada.”