Após balanço do 1T25 da Petrobras, analistas esperam reação positiva do mercado financeiro dado o aumento trimestral nos dividendos ordinários. (Imagem: Lukasz Z em Adobe Stock)
A Petrobras fechou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 35,2 bilhões, 48,6% a mais do que há um ano, e reverteu o prejuízo de R$ 17,044 bilhões do trimestre imediatamente anterior. Analistas do mercado financeiro dizem que os resultados foram bons, mas em linha com o mercado, e a maioria tem recomendação neutra para a compra do papel neste momento, mesmo diante de boa perspectiva de pagamento de dividendos.
Para os analistas do Safra, os resultados da Petrobras no primeiro trimestre de 2025 ficaram em linha com estimativas. A petroleira reportou lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recorrente de US$ 10,7 bilhões no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 8% em relação ao trimestre anterior, impulsionado principalmente pelo segmento de Exploração e Produção, que reportou um crescimento de 11% no Ebitda ajustado recorrente.
Segundo eles, o crescimento no lucro da Petrobras (PETR3; PETR4)pode ser atribuído ao desempenho operacional mais forte e aos resultados financeiros líquidos positivos. “A maioria das diferenças em relação às nossas estimativas foi explicada pelos resultados financeiros melhores do que o esperado, parcialmente compensados por despesas tributárias acima do previsto”, dizem os analistas do Safra.
Na visão da Genial Investimentos, a empresa reportou números sólidos e razoavelmente em linha com as estimativas em Ebitda e lucro líquido acima das estimativas e do consenso do mercado financeiro devido ao impacto de variações cambiais nas despesas financeiras. A empresa apresentou geração de caixa livre recorrente (fluxo de caixa operacional menos investimentos) de R$ 26 bilhões.
Cenário do petróleo e investimentos preocupam analistas
Os analistas da Genial dizem que o rendimento do fluxo de caixa livre anualizado é de 24%, o que, segundo a Genial, é interessante, mas insustentável se considerado o petróleo do tipo Brent na casa dos US$ 65 a US$ 60 por barril até o final do ano. Os investimentos foram de US$ 4,0 bilhões ante US$ 3,0 bilhões no primeiro trimestre de 2024 e US$ 5,7 bilhões no quarto trimestre de 2024.
Ao anualizar o fluxo de investimentos apresentado no primeiro trimestre de 2025, os analistas calculam que eles alcancem US$ 16 bilhões no ano, ante guidance(projeção) de investimentos de US$ 18 bilhões para 2025 na totalidade. “É importante mencionar que esse foi um dos pontos de atenção em relação ao resultado ado, tendo em vista a pressão dos investimentos na geração de caixa da empresa e, consequentemente, no fluxo de dividendos daqui por diante”, dizem Vitor Sousa e Ricardo Bello, que assinam o relatório da Genial.
Os analistas do Citi dizem que o balanço da Petrobras no 1T25 foi positivo, apesar de ter vindo ligeiramente abaixo do esperado e sem surpresas. O banco espera reação positiva do mercado aos resultados dado o aumento trimestral nos dividendos ordinários.
A equipe do Citi explica que o avanço no resultado refletiu, principalmente, a maior produção de óleo e gás e preços estáveis do petróleo no período, com receitas líquidas totalizando R$ 123,1 bilhões, alta de 4,6% ante um ano. A dívida bruta atingiu US$ 64,5 bilhões, montante 7% maior em relação ao trimestre anterior, impulsionada pelo início da operação do FPSO Almirante Tamandaré, mas permanecendo abaixo do limite estabelecido na política de remuneração aos acionistas da estatal, observa o Citi.
Qual será o rendimento dos dividendos da Petrobras?
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, diz que a Petrobras encerrou mais um trimestre com forte rentabilidade, apoiada pelo preço médio do barril de petróleo Brent, que ficou em torno de US$ 75 no período. No entanto, ele relata que o cenário para o segundo trimestre tende a ser mais desafiador, com o Brent sendo atualmente negociado na faixa de US$ 65 por barril — o que pode pressionar margens e resultados futuros.
“Apesar disso, a companhia deve continuar figurando entre as principais pagadoras de dividendos da Bolsa brasileira, com estimativas de retorno via proventos entre 10% e 15% nos próximos 12 meses. De forma geral, mantemos uma visão positiva para as ações da Petrobras, especialmente diante de seus fundamentos sólidos, geração robusta de caixa e valuation (valor do ativo) atrativo”, diz Abdouni.
Luciana Maia Campos Machado, professora de Finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), também estima que os dividendos da Petrobras devem alcançar rendimento (dividend yield) entre 10% e 15%, mesmo em um ambiente de petróleo mais barato. “A empresa já aprovou R$ 11,7 bilhões em dividendos referentes ao trimestre, o que mostra que a política de remuneração permanece ativa. Se o fluxo de caixa livre continuar acima de R$ 20 bilhões por trimestre, como foi agora, esse patamar de yield tende a se manter, atraindo principalmente investidores em busca de renda”, afirma Machado.
A Genial Investimentos não está tão otimista. Eles apontam que rendimento em dividendos do trimestre foi de 2,9%, representando um rendimento de 11,4% em termos anualizados. “Isso naturalmente não deve acontecer caso os preços do Brent permaneçam no patamar atual (US$ 60 entre 65 por barril). Sendo assim, apesar dos resultados sólidos, somos céticos quanto a uma resposta positiva do mercado à tese da empresa como um todo, tendo em vista o cenário de preços do Brent pressionando e maiores investimentos”, dizem Vitor Sousa e Ricardo Bello, que assinam o relatório da Genial.
Vale a pena comprar ações da Petrobras agora? Veja os preços-alvo e as recomendações
Embora os dividendos chamem a atenção dos analistas, nem todos recomendam comprar a ação PETR4 agora. A Genial Investimentos tem recomendação de manter, que é equivalente à neutra. O preço-alvo fica em R$ 48,00, uma alta de 50,71% na comparação com o fechamento de segunda-feira (12), quando a ação encerrou o pregão a R$ 31,85.
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Os analistas do Citi dizem que a tendência de aumento do investimento em capital (em linha com o plano estratégico da empresa) combinada com a queda dos preços do petróleo à frente pode levar a uma revisão da projeção de dividendos para baixo, corroborando para a recomendação neutra do banco para a estatal. O Citi tem preço-alvo de US$ 12,50 para as American Depositary Receipts (ADRs, recibos que permitem comprar nos EUA ações de empresas não americanas) da Petrobras, representando um potencial de alta de 3,6% ante o fechamento dos papéis no pregão de ontem.
A Ativa Investimentos também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 44,00, alta de 39,0% em relação ao último fechamento. Eles dizem que apesar da resiliência operacional demonstrada, a recomendação se justifica diante de um panorama setorial mais desafiador para o petróleo e uma relação risco-retorno do papel que consideramos menos atrativa frente a outras oportunidades no setor.
A única a recomendar compra para a Petrobras é a professora da Fipecafi. Segundo Machado, o papel segue negociando com múltiplos atraentes, e os fundamentos operacionais sustentam uma visão positiva. Considerando os dados mais recentes, um preço-alvo de R$ 46 para os próximos 12 meses parece justo, ficando alinhado ao intervalo das projeções de mercado, que hoje variam entre R$ 35,60 e R$ 48,50. “O potencial de valorização, somado ao robusto pagamento de dividendos, coloca a Petrobras como uma das blue chips (empresas consolidadas com grande liquidez) interessantes para investimento na Bolsa de Valores agora”, diz.