Mesmo que cota desvalorize, investidor continua a receber dividendos mensais dos FI-Infra.(Imagem: THINK b em Adobe Stock)
Os Fundos de Investimento em Infraestrutura – Debêntures Incentivadas (FI-Infra) e os Fundos de Investimento em Participações em Infraestrutura (FIP-IE) são duas famílias de fundos que possuem um ganho tributário duplo. São isentos de Imposto de Renda (IR) na distribuição mensal de dividendos e também na valorização da cota, no caso de venda. Diferentemente dos FI-Infra, os investimentos dos FIP-IE não estão em títulos de dívida, mas no capital das companhias.
O problema é que as cotas variam ao sabor do mercado. Alguns produtos como o OGIN11, o FI-Infra da Nikos, deu um retorno negativo em mais de 22% nos últimos seis meses. Veja levantamento da Economática referente ao período até 6 de maio de 2025:
Nome
Ticker
Retorno em seis meses (%)
Retorno em 12 meses (%)
Retorno desde o início do fundo (%)
Retorno em dividendos desde o início do fundo (%)
Sparta Cdii
CDII11
2,61
10,00
39,61
31,13
Suno FICFI
SNID11
6,65
9,49
35,02
27,27
Fdc Kineainf
KDIF11
4,07
3,72
51,51
49,11
FIC Inter
BIDB11
1,88
2,51
33,76
48,22
Sparta Infra
JURO11
0,43
2,36
57,83
47,09
Fdc Itau Ie
IFRA11
1,22
-2,47
48,67
55,14
FIC Ie Cap
TI11
4,04
-4,41
54,23
67,31
FICFI Bcna
BODB11
1,42
-5,84
13,83
34,42
FIC Infr BTG
BDIF11
5,20
-5,84
35,88
70,56
FICFI Rb Es
RBIF11
-4,25
-9,71
0,74
37,39
Firf Xp Ie
XPID11
-1,38
-10,81
-1,20
21,35
Nikos Infra
OGIN11
-22,86
-16,04
-3,40
36,07
Na visão de Marcelo Souza, CIO de Infraestrutura da Pátria Investimentos, uma desvalorização como essa não significa necessariamente que o investidor está perdendo dinheiro, a não ser que ele venda o ativo. Para ele, muito da perda de valor do setor aconteceu por movimento de manada. “A cota de mercado cai porque tem muita gente vendendo, mas se manter, o investidor vai continuar a receber os 12% de dividendo ao ano até que a cota volte”, raciocina.
Fundos de infra: entenda a diferença entre cota de mercado e patrimonial
Esse descolamento entre preço de tela e valor real do ativo é, na visão de Souza, uma oportunidade. Para entender melhor, o investidor precisa diferenciar dois conceitos: a cota de mercado e a cota patrimonial.
A cota de mercado diz respeito ao preço pelo qual o fundo está sendo negociado e, portanto, está sujeita à oferta e à demanda, podendo sofrer com oscilações provocadas por movimentos de manada. Já a cota patrimonial reflete o “valor justo” do fundo, com base no desempenho real dos ativos, resultado acumulado e lucros que ainda não foram distribuídos. “Se o investidor está comprando a R$ 102, é porque essa cota carrega dentro dela resultado e caixa que justificam esse valor”, explica o gestor, ao citar um fundo recém-lançado. O Pátria lançou em janeiro o FI-Infra PRIF11 na cota R$ 100.
Nesse sentido, cotas acima de R$ 100 não necessariamente indicam que o investidor estaria pagando um preço mais alto, pois pode simplesmente refletir o bom desempenho da carteira do fundo. Por outro lado, quando a cota de mercado está abaixo da patrimonial, o investidor pode estar adquirindo o fundo com desconto.
Citando o SNID11, FI-Infra focado em debêntures incentivadas dos setores de ssaneamento,rodovias, energia renovável e telecom regionais, Vitor Duarte, CIO da Suno Asset, faz uma ponderação. Segundo ele, produtos como este não são projetados para ganho de capital ou especulação, mas para geração de fluxo de caixa previsível, com foco em renda mensal via dividendos, isenta de IR.
Como os fundos se comportam em cenário de juros altos?
“Teve uma época que o SNID11 estava com 12% de ágio, negociado a R$ 112. Estava fora da curva, tanto que voltou, não tem porquê. É um fundo de renda, renda em CDI“, diz salientando que seu fundo persegue CDI + 2%.
Nos últimos meses, fundos apresentaram descontos em relação ao valor patrimonial, o que para muitos investidores representa oportunidade de entrada. Gustavo Saula, analista de renda fixa do Grupo SWM, chama atenção para um ponto. Ele lembra que o setor de infraestrutura tem baixa correlação com o ciclo de juros, já que as receitas dos projetos são geralmente indexadas à inflação e vinculadas a contratos de longo prazo em setores regulados.
“Os descontos também podem refletir percepções do mercado sobre o risco de crédito de emissores específicos, o que deve ser analisado caso a caso”, diz. No geral, boa parte dos investidores não acompanha de perto as carteiras dos ativos que possui. Dessa forma, quando começa um movimento de desvalorização, a tendência é que ele efetue a venda. “Isso intensifica a desvalorização de alguns fundos listados, sem um fundamento relevante.”