Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset. Foto: Hélvio Romero/Estadão
A Verde Asset, comandada por Luis Stuhlberger, considerou as recentes propostas do governo de alterar a tributação de investimentos como um tema “meritoso” ao reduzir distorções. A gestora pondera, no entanto, que a falta de articulação combinada à ausência de sinal de controle sobre os gastos torna o tema “bastante indigesto”. As declarações estão presentes na carta de gestão mensal da casa divulgada nesta terça-feira (10).
As propostas fazem parte do pacote alternativo, sugerido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). No último domingo (8), o chefe da pasta econômica se reuniu com lideranças do Congresso Nacional para encontrar saídas para compensar a perda de arrecadação prevista pela medida anterior.
Segundo o Ministério da Fazenda, a proposta atual prevê que ativos até então isentos de Imposto de Renda (IR) sejam tributados em 5%. Caso a medida seja aprovada, produtos financeiros como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) seriam afetados.
Nesta terça-feira, Haddad também confirmou que será fixada uma alíquota de 17,5% para aplicações financeiras que hoje seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda (IR). O ministro disse ainda que uma das medidas a serem publicadas pelo governo será elevar a alíquota aplicada em Juros sobre Capital Próprio (J) de 15% para 20%.
Na opinião da Verde, é pouco provável que saia do Congresso algum aumento substantivo de receitas e, como o Executivo precisa lidar com objetivos eleitorais em meio a uma crise de popularidade, a saída será “jogar a conta para a frente”. A gestora reflete que a animação com os ativos brasileiros, especialmente com a Bolsa de Valores brasileira, parece ter encontrado algum limite imposto pela realidade difícil da situação fiscal.
No final de maio, Stuhlberger, gestor do fundo Verde, havia classificado o aumento do IOF proposto pelo governo como “assustador”. Segundo ele, as mudanças no imposto foram uma “aula de psicologia gratuita” do que o PT pensa. Para o gestor, a elevação das alíquotas estava associada à ideia do governo de reajustar os pagamentos do Bolsa Família, em resposta à perda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“É tipo assim: ‘vamos distribuir dinheiro, vamos aumentar a arrecadação, não importa que seja de uma maneira unfair [injusta]’”, comentou Stuhlberger.
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Ele acrescentou que o mais assustador foi a tentativa de taxar as operações de câmbio, que, conforme descreveu, foi como cobrar um “pedágio” de quem precisa comprar a moeda americana. “Isso é muito scary [assutador] porque, na minha opinião, deveria aumentar a precificação do tail risk [risco de cauda] negativo do PT”, declarou o gestor no evento anual do fundo Verde.
Gestora subestimou probabilidade de governo Trump “ceder tão rápido”
Na carta de gestão mensal, também foi citada a redução do risco percebido pelos mercados em relação ao conflito comercial global. De acordo com a casa, o governo chinês tem usado de maneira efetiva a ameaça velada de suprimir exportações de metais cruciais em várias cadeias de suprimento, como de automóveis, eletrônicos e até de defesa. Foi por conta dessa ameaça, na avaliação da gestora, que o governo de Donald Trump recuou tanto na retórica quanto na prática da imposição de tarifas.
“Subestimamos a probabilidade de o governo Trump ceder tão rápido e não conseguimos capturar essa recuperação do mercado acionário americano. Ainda assim, tivemos ganhos em outras classes de ativos como inflação e cripto“, destaca a carta.
A Verde reflete que a incerteza sobre os desenvolvimentos de curto prazo continua bastante alta, já que os choques inflacionários e de confiança na economia americana são muito recentes. “Ao longo dos próximos dois a três meses, devemos ter mais clareza. Continuamos a esperar surpresas inflacionárias”, diz.
Ao mesmo tempo, a gestora acredita que a penetração da Inteligência Artificial (IA) por mais setores tende a reforçar a dinâmica de crescimento, contendo, por outro lado, parte da alta de preços. Com isso em mente, a casa trocou parte da alocação comprada em inflação americana por posições aplicadas em juro real.
As posições atuais do fundo Verde
O fundo Verde teve em maio ganhos em juro real brasileiro, cripto, na posição de inflação americana e no livro de ações local. As perdas vieram de proteções em Bolsa global, do livro de moedas e da posição comprada em ouro. No mês, o fundo subiu 1,31% ante 1,14% do CDI. Já no acumulado de 2025, o produto rende 6,12%. O CDI, 5,26%.
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De acordo com a carta mensal, o fundo da Verde Asset mantém alocação zerada em Bolsa brasileira e está levemente vendido em Bolsa global. No Brasil, tem posições compradas em juro real. Já nos Estados Unidos, reduziu a posição de inflação e iniciou alocações aplicadas em juro real. Em moedas, zerou posições vendidas no renminbi chinês, estando comprado em euro, ouro e real. Ainda reduziu marginalmente a alocação em criptomoedas e manteve os livros de crédito high yield (opções com alto retorno, mas também com alto risco) local e global.